12/10/2020

6Guardando na prateleira histórias dignas de registo (VI)

Um desafio em Julho de 2008, sobre uma pintura publicada aqui neste mural da minha C(l)ave - Partilha de uma muito querida (4), um acrílico sobre tela da minha Autora da Capa de Memória Alada -, resultou num conjunto de histórias que só me lembrei passados quase 12 anos de recolher para memória, e que são dignas de serem lidas por quem se quiser dar a esse trabalho. 

Segue-se a parte VI:

Uma Estória (16)

Conticho 

(capítulo I)

Ao quarto toque do alarme despertador do telemóvel, Brid Patt pega furiosamente no aparelho e com força maior que a necessária, prime o botão que o faz desligar-se.

– Damned noisy things! – Desabafou enquanto virava o corpo para o outro lado da cama a ajeitar a almofada.

Eram seis menos um quarto (AM) quando finalmente poisa os pés no chão e o cérebro na caixinha dos pensamentos. Brid tinha uma hora e meia para chegar ao aeroporto e levantar voo até LA onde o esperava a sua lindíssima mulher Julinina. Anjúlia, para juntos rumarem a um país africano, provavelmente, em missão da Onu da qual ela é embaixatriz. Porém, a bordo e após terem insistido imenso com ele para que aceitasse tomar o pequeno-almoço americano, não se sentiu bem disposto e levantou-se para rapidamente ir ao wc lavar a cara. Ainda não estava bem. Teria sido o bacon que por vezes lhe causa reacções realmente estranhas, mas nunca como no momento. Que mais poderia ter sido? Lembrou-se que apesar de ter usado duas ou três pastilhas de adoçante no café, (Não faço publicidade à borla de jeito nenhum!) este lhe soubera amargo ainda. Hmmmm..

Sentou-se no lugar mais próximo que encontrou, mas de repente, ficou muito agitado, confuso e um pouco tonto. No entanto, passara-lhe o enjoo. Tentou acalmar-se – em vão. Começou a tremer, piscava os olhos e sentiu uma enorme vontade de movimentar-se, correr, pular, sei lá – dançar e apanhar um pouco de ar. E daí até ao compartimento de bagagem e equipamento, foi um salto. As pessoas aplaudiam-no pensando que ele estaria a representar: “Fixe, fixe, Brid!!“ Passou por elas, empurrou o comissário de bordo fazendo com que se estatelasse no chão. Apertou o primeiro pára-quedas que apanhara a jeito contra o corpo, pulou os dois vãos de escada até ao porão, e, abrindo a pequena porta, lançou-se para fora do avião.

Ar! Finalmente ar, muito ar, todo o ar: – “Estou no ar, iuuuuuupppy, iuuuuuupppy yaaaaa!!!!”

O Vento não queria acreditar em tal proeza e encantado por ele, apanhou-o nas mãos embalando-o no colo por um tempo. Depois, decidiu conceder-lhe uma longa e inesquecível valsa fazendo-o voar pelos quatro cantos do mundo.
Admirando tudo, com uma imensa alegria e comovido, Brid abraçou-o fortemente e muito grato.
Contou-lhe sobre o seu encontro com Julinina em LA, mas o velho Vento já um pouco cansado ou porque se passara do clima, quiçá, ao aproximar-se do anti-ciclone dos Açores, virou à esquerda e pousou-o docemente no chão, como se fora um bebé, seu neto, e, subiu, subiu até desaparecer por entre o lindíssimo amontoado de nuvens cor de rosa que haviam adormecido sobre um plácido mar estendido lá ao fundo do horizonte.
Patt estalou os dedos para se saber acordado – ou não. Beliscou-se, doeu. Sim, estava, mas não sabia onde.
Em plena Praça do Comércio! – De onde partiu rapidamente sem contudo ter traçada uma direcção precisa.

Duas ruas abaixo e perpendiculares ao Rossio, avistou um grupo de homens reunidos à porta de um estabelecimento que lhe pareceu ser um bar, uma vez que, cada um, segurava nas mãos, o seu copo. Estranhou o diminuto tamanho dos recipientes, mas, sentindo uma súbita e tremenda sede, correu para lá e pediu: “A beer please!”
– Aqui é pinga, meu! Ginja com elas, queres ver?
Divertido, aceitou o copito que lhe ofereceram e vai de gole. Apanhou-lhe o gosto e pediu outra de seguida. Às duas por três, estava lançado, e, se não fora ter avistado uma limousine rodando vagarosamente com pompa e circunstância rua acima, por ali ficaria a encher-se de ginja com conversa pelo meio que não entendera nem um pouco e decidiu seguir o carro até este parar junto a uma passadeira encarnada estendida ao longo de toda a avenida e em torno da qual, se amontoava uma massa de gente curiosa que espreitava as figuras que iam chegando uma a uma, por períodos de tempo regulados.

Com todo aquele aparato, acordou finalmente para a sua real rotina, pensando que estaria no local certo e que a sua querida Anjúlia não tardaria muito mais a aparecer e a ficar junto dele. Decidido, alargou o passo avançando para o longo tapete, a recompor o cabelo, o fato, pronto a rasgar o melhor sorriso para as câmaras e a acenar a todo aquele público que certamente também o aguardava. Foi então que sentiu um forte aperto no braço, puxando-o para trás. Voltou-se e muito espantado, deu com o enorme segurança que o impedia de passar adiante: “What?! Are you crasy man, dont you see? I’m Brid Patt!!!!
– Pois, tá bem, e eu cá sou o Xico Fininho, pá! Cá pr’a trás, cá pr’a trás meu que não te vi sair de carro nenhum e essa do inglês não pega! Ele é com cada um…

A coisa estava a ficar preta e Brid, talvez que à conta da ginja, ganha uma força brutal, solta-se de rompante e corre para a frente das câmaras onde é efusivamente aplaudido. É a loucura total! Incrédulos, os fãs gritam por autógrafos e ele, simpaticamente acede e escreve em todos os papeis, t-shirts, mãos, ombros, barrigas, costas; tudo o que lhe metem à frente e cumprimenta toda aquela gente.

O segurança não tem mãos a medir, pede reforço mas, o colega que corre agora a seu lado, tenta convencê-lo: “Deixa pá! Se não é o gajo até que é parecido, man. Pode ser um duplo, sim, mas inda assim a minha Florinda desfaz-me se não lhe levo um autógrafo. Pensa nisso!!”
– Passaste-te pá? Isto são lá tempos de se deixar passar coisas destas! Temos que revistá-lo, sacar-lhe o B.I. e essas tretas. Vamos!
– Em directo, na gala da TBI ?! E se isto é show armado p’la Nela Loura Deves, lá por coisa das ódiências ?
– Bom, fica lá então d’olho no homem enquanto tá entretido c’a caneta para eu dar um toque ó chefe… Tá lá, chefe? Passa-se assim: Tamos aqui eu com o Paiva na gala da TBI e temos um gajo na passadeira vermelha a dar ótógrafos ó pessoal que se diz ser um tal de Brid Patt – aquele lá d’Óliude, tá a ver, e a malta o que vá de fazer?
Ah… bom, ok, ok, sim chefe, tá-se, espero.
– E atão? – pergunta o Paiva.
– Temos c’aguardar que o chefe contacte directamente a organização do evento, mas que entretanto na despregues o olho nele.
Aguardo sim chefe – e diz que nestas coisas tudo é possível… – Sim chefe, aguardo – …Pois é, diz que s’inté o Zé Pastel Bronco grava um disco, também pode muito bem ser que tenham mandado vir uma réplica do actor, ou assim… – aguardo, chefe.
– Ê nã te disse? Bora lá meu, dar segurança ó homem qu’inda é a gente que se lixa!

Mas já era tarde. A euforia era tal que nem os fotógrafos e repórteres se seguravam mais. Gerara-se a confusão total, disparavam-se flashes das câmaras fotográficas, o chão estava coberto por um emaranhado de fios e as pessoas corriam, tropeçavam neles e caíam desamparadas no solo impedindo a aproximação dos guardas de serviço. O Paiva metia as mãos à cabeça, chamava pelo colega e este pl’o chefe que lhes gritava ordens que não se entendiam. Foi então que alguém com bom senso, uma rapariga, que, na fila e bem atrás do rapaz que acabava de ser autografado na testa, se chega à frente e grita ao actor: “ Watch out, Brid, please hurry up and follow me!!”

Alarmado, finalmente dá-se conta do que sucedia e obedece àquela voz que não sabia bem de onde vinha. Atira-se. A rapariga oferece-lhe a mão e uma vez mais ordena-lhe que a siga, puxando-o determinada.
As luzes e as câmaras procuram-no voltando-se agora apressadamente para o outro lado da passadeira que até há segundos se mantivera praticamente às escuras. Levam um tempo de vantagem e então correram os dois o mais que podiam. Nesse momento, todos os olhos se fixam automaticamente no ecrã gigante montado na fachada principal do edifício, no qual, somente passavam vultos e sombras esbatidas a uma velocidade incrível, caras desconhecidas, tal era o desatino geral e a pressa dos operadores em descobri-los.

Já um pouco afastados da multidão e perto da esquina, a tomar fôlego e todo o cuidado, a mulher abranda por um pouco a corrida, antes de se decidir dobrá-la. A rua está quase deserta e pouco iluminada.
– Podemos ir – assegurou-lhe ela – e não tarda estarás em segurança, prometo-te.
Brid suspirou aliviado e sorriu-lhe. Passou novamente a mão pelo cabelo, fez o mesmo com o dela, ajeitando-lhe a teimosa madeixa negra caída sobre um dos seus olhos. A rapariga deu-lhe o braço e sugeriu que seguissem como se fossem dois amigos em passeio. Rindo, atravessaram por fim a rua. Em tom de sussurro, ela informou-o de que estavam quase a chegar. Contudo, a uns cinquenta metros adiante, depararam com um inesperado carro de exterior, cuja equipa estaria ali a postos para qualquer eventualidade, como esta boa hipótese de surpreendê-los, se é que já estariam informados sobre o seu caso.
– Pode ser que não – apostava ela optimista, fazendo-o parar enquanto fingia apertar um sapato para observar o grupo em acção.

Um jovem repórter aproximara-se de duas senhoras e perguntava-lhes se estariam a caminho da gala da estação de tv para assistirem à chegada dos artistas.

– Podemos passar. Agora! – Determinou ela voltando a dar-lhe o braço com o ar mais descontraído que conseguiu. Brid concordou, até que um pouco para o divertido.
– Também és actriz? – Noutra ocasião ela teria rido alto com gosto, mas limitou-se a abanar negativamente a cabeça, assumindo o papel de sua protectora.
– Não, nem de telenovela – piscou-lhe um olho convidando-o a adivinhar sobre a sua pessoa e profissão – não tenho o mínimo talento nem vocação – afirmou.
– Então estou finalmente nas mãos da fã que jurou raptar-me! – riu – polícia, ó da guarda!

As gargalhadas em uníssono foram inevitáveis chamando a atenção dos transeuntes sobre eles. As duas senhoras deliravam ainda com a entrevista: que estava tudo muito lindo, que logo que chegou o primeiro famoso desligaram o aparelho e saíram de casa para se irem plantar atrás do cordão dourado e já mandavam “jocas” aos netos, primas e tal, mas, o jornalista depressa as abandonou voltando-se para eles.

– Um cigarro – lembrou-se a rapariga. Acendeu um rapidamente e apressou o passo – vem, baixa a cabeça, olha para o chão e não pares, não pares.
– Um cigarro..?! – Olhou-a espantado – em vez de corrermos vais fumar agora?
– Claro, se fores uma pessoa vulgar e não estiveres para responder a umas perguntinhas de rua, acredita que nada é mais capaz de afastar uma câmara de televisão que um fumador, hum? Nós somos gente comum, não há aqui estrelas, ok?
– Certo, espertinha…

Mas desta vez e com efeito, não ia resultar. O jovem repórter confirmava as suas suspeitas e aguardava ordem, o tempo e condições para entrar no ar. A rapariga tentou persuadi-lo de um possível engano puxando a atenção para si, para o fumo que propositadamente lhe soprara na cara mas sem sucesso e em dois tempos decidiram fugir.
Tarde demais. Do outro lado da rua, o operador da câmara avançava com a máquina começando a filmar e no grande ecrã, já a imagem de B.Patt surgia em primeiro plano.

Brotavam todas as questões: Por que estaria ele em Portugal e mais propriamente na Gala da Tê Bê I, por que se encontrava ali sem a sua Julinina, sobre quem seria a rapariga, se o casamento teria terminado e assuntos afins…

Neste entretanto, a rapariga atirara distraidamente o cigarro fora, centrada em procurar maneira de saírem dali, e esse, foi rolando, rolando pela berma da estrada abaixo até chocar com um dos grossos cabos eléctricos desordenadamente espalhados pelo chão. Pouco tardou e sentiu-se um ligeiro cheiro a borracha queimada mas ninguém ligou.

Por falar em “ligar”, e assim que o técnico de luz prime o interruptor de um dos focos principais, dá-se um curto-circuito provocando uma pequena e primeira explosão. Depois a segunda durante a qual, a luz se torna tão intensa e impossível de se suportar que faz com que todos se sintam obrigados a tapar os olhos. Soltam-se faíscas de todos os lados e há quem pense que finalmente a festa começará de imediato com um imponente fogo de artifício. Não se diz coisa com coisa (mas isso é normal nestas andanças), ninguém sabe mais por onde começar, para onde ir, correr ou sentar a não ser a rapariga que, ainda atenta, observa que um dos fios bem próximo de B. Patt está prestes a arder e que ele corre o risco de ser atingido por uma chuva de grossas faúlhas que voam já na sua direcção. De um salto, atira-se para a sua frente de braços e mãos abertas pronta a protegê-lo como pode. Dá-se um enorme clarão, alaranjado, ouve-se um grito e a rapariga tomba instantaneamente no chão.

Por instantes faz-se noite no recinto e cai um silêncio profundo sem que contudo a maioria das pessoas entenda muito bem a que se deve. Há som, algumas câmaras estão operacionais e no ecrã vão já desfilando algumas caras conhecidas e ao acaso.
– Ah, isto está demais, demais, adoreeeii, chiquérrimo! – Diz o Zé Pastel Bronco realmente impressionado – mas como é que J.Tôlo não se lembrou de vestir-me de páraquedistaaaaaa…, está a ver…?

Após alguns acertos e de novo, todas as atenções se voltam para lá.
Brid encontra-se no centro daquele pequeno grupo reunido ainda ali sem terem tido tempo para mais que para o desmantelamento dos equipamentos a serem agora trocados por outros. O jovem repórter mantém-se em serviço mas é o primeiro a socorrer a rapariga ainda estendida no alcatrão. Procura levantar-lhe a cabeça e oferecer-lhe um pouco de água. A pouco e pouco recupera os sentidos, procura pronunciar uma palavra. Brid baixa-se e estende-lhe a mão que ela recusa pretendendo levantar-se por si só e dizer-lhe qualquer coisa que não se percebeu.
– Deixa-me ajudar-te, dá-me a tua mão, vá – segura-a e com alguma força, puxa a rapariga contra si. Já de pé, sente-se ainda um pouco tonta e confusa e Brid ampara-a carinhosamente mantendo a mão dela apertada entre as suas. Inclina-se e ao de leve, assenta-lhe o mais terno e grato beijo, dizendo: “thank you, salva-vidas desmiolada!”

É nesse preciso momento que acontece o inconcebível, espantoso e terrível facto: O actor vira sapo.

(Claro que era aqui. E claro, que não foi surpresa nenhuma. Tinha que ser, mais tarde ou mais cedo e então, por que esperar? Pronto, já está)

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh !! – É o susto geral.

Olhos esbugalhados, uma multidão boquiaberta. Uns chorando enquanto outros rindo, começavam a acreditar que é espectáculo – é espectáculo, é magia, só pode ser! – Grita um grupo divertido aplaudindo muito, muito.
– Viva, viva Tê Bê I ! – E mais palmas e suspiros – que isto está em grande, sim senhora!

Alguns concordam e esperam a aparição do “nosso” mágico Muis Latos, ou… ou será que também mandaram vir e em vez, o “Di” Copafild? – vá-se lá saber.

Numa sala à parte, algo atrapalhados, confusos e já para o assustados, reuniram-se os elementos da Organização.
– Alguém tem que esclarecer isto, é preciso fazer um comunicado – insistia uma antiga apresentadora.
– Mas nós… não temos um seguro contra incidentes destes… a ver com sapos, não? – Indaga o homem dos óculos consultando uma pilha de papeis cheias de gráficos às cores e números; nervoso, roendo lápis, uns atrás dos outros.
– Ó Zé, é preciso que alguém vá imediatamente ao palco dizer alguma coisa e dar-se início a isto de uma vez enquanto nos organizamos aqui e recolhemos factos concretos.
– Eu vou – saltou a Nela Moura Deves da cadeira, ansiosa por entrar em cena e ajeitando já o cabelo, os folhos, a boca…
– Nãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaao !! – grito geral – todos menos tuuuuu!
– Parvos… chuiff…

Nisto, ninguém ousa pestanejar, mover um músculo, respirar. E é o jovem repórter que do seu posto rompe o silêncio e confirma: “È um facto, o nosso convidado… cof.., ou não, hmmm... estimado colega e actor estrangeiro conceituado, o famoso B.Patt, de facto, virou sapo – disse.
– Ohhhh ! (aumentar o som) – espanto – e agora?

Sim, e agora? Ninguém sabia. A organização mantinha-se encolhida à porta fechada. Tinham assistido dali e esperavam ainda a reacção das pessoas que cá fora formavam grupos para discutir o assunto, se deviam ir embora ou ficar. Começaram a procurar comida, tomar qualquer coisa, mas nada.
Daquela sala não saía ninguém nem lhes dizia o que fazer. A Li Caneco ia (in)discretamente procurando posicionar-se sempre na mira de qualquer câmara que visse por perto, pelo sim, pelo não, e ensaiando poses elaboradíssimas, mas isso é ela que é mesmo assim…

– Agora não sei – disse o Director Zé E. Nariz encolhendo os ombros – não estou preparado para isto. Vejam bem: numa situação destas chama-se os bombeiros, uma ambulância ou o quê? Mas alguém sabe?
– Não olhes para mim que eu não tenho nada a ver com isto! Tinha decorado bem as minhas deixas, percebes? – Queixou-se a Nela ainda de beicinho.
O das contas vasculhava de novo os papeis e começava a roer um lápis azul que por sorte alguém deixara por ali esquecido em cima da mesa do canto. Observando-o, a senhora forte de cabelo castanho, repuxado ao alto e atado atrás com uma fita de organza amarela e bem engomada, levantou-se e disse:
– Sim, comer. E por que não, se pelo que vejo nas imagens é o que aquela gente agora quer? – Levantou-se, correu para a porta, abriu-a e foi juntar-se ao grupo mais próximo contando aos outros o que (não) se estava a passar lá dentro da sala. – Se não trinco qualquer coisa desmaio – ameaçou..
– Mas isto é incrível, então ninguém nos diz nada? – Inquiriu um dos jornalistas mais afamados da concorrência, que diz telejornais de fio a pavio enquanto escreve pilhas de livros, usando aqui um ar muito sério e indignado.
– …?! – Entreolharam-se na sala. Nisto levanta-se o director, e decidido, liga o som e dali mesmo e em directo, pede-lhe:
– Mas diga-nos você, dom Rodrigo dos Cantos, sugira-nos qualquer coisa.
– Eu? Pois, está bem, está… Olhe, eu cá por mim não sei mas perguntava à autora.
– Mas qual autora..? – Gritaram-lhe meio intrigados, meio aliviados, finalmente vislumbrando a possibilidade de existir alguém a quem passar a responsabilidade desta trama – qual, quem, onde? – Suplicavam.
– A autora disto, ora, quem mais podia ser? – Disse o dos Cantos gozando o seu momento.
– Mas qual disto, disto o quê? Por favor seja mais claro e diga-nos a quem se refere, está bem?
– Ó senhores, haja juízo e pensem um pouco, vejam: a autora desta “coisa”, meninos! Riu-se: – Desta trapalhada, que seca, que nem se bebe é nada!!


 capítulo II



Com esta dos “bebes” é que o povo reagiu e desatou a aplaudir dom Rodrigo que já se encaminhava para o salão levando a multidão atrás de si.

Isto é que ele tem cá um condão…
E pronto, sobra para mim, tudo eu!! – digo eu daqui muito baixinho e encolhendo-me o mais que posso. E, assim, e como quem não quer a coisa, levo o mouse até ali acima onde diz “ficheiro” e estou prestes a clicar em “fechar” quando de repente me sai esta intrometida que até me assustou:
– Mas tu nem penses Malu!! Nem penses em fechar isto que a festa nem começou. Caso contrário, faço queixa à Ticho!!
– Não, isso não, Maria da Feira (aquela pequenina que se mete em todo o lado e que até cabe no meu computador) – isso é jogo sujo e porque a Ticho nem sabe de nada e eu estou em férias. Repito: de fé-ri-as.
– Pois estás em férias, mas a brincar, a brincar, escreveste esta m** até ao imbróglio em que nos meteste e agora sais de fininho e a gente aqui que se dane. Ou julgas c’a fatiota não me saiu pr’ó carote?
– Olha lá tu, ó M da Feira, antes de mais e só para a gente se rir um pouco, faz-me lá o favor de repetir aquela frase ali acima que diz: “Faço queixa à Ticho” – tramada de se dizer, não é? Mais a mais em directo na Tê Bê… Diz lá que até te saíste bem e eu muito me ri aqui a ver-te a torcer a beiça toda. Vá lá, estou à espera.
– Não sei quem és, mas deves ser uma ganda malu-ca. Tá bem eu digo: “faço queixa à Tixo”, está bom assim?
– Eh eh, soa esquisito e enganaste-te! Disseste com Xis e era com Cê e Agá, ah ah – trafulha. ;)
– Olha, afinal podes fechar o programa … parola.
– Então até à próxima, diverte-te – acenei-lhe com o mouse apontado ao alvo.
– Mas espera aí! Qual próxima? Quer dizer: Tu és daquelas que de volta e meia se mete a escrever umas broncas e depois embirras e atiras com a malta toda para o lixo. Mas isso faz-se? Já viste que nem deixaste a nossa festa começar e abandonas-nos aqui com um homem daqueles transformado agora em sapo? Tu é que sabes…
– Da Feira?!! Diz-me lá tu, se as bates todas ou se estás a querer que eu fique zuca de todo. Agora falo com personagens… Pior: discuto. E pior ainda é que estou mesmo sem tempo e o prazo de entrega para o “conticho” termina amanhã..
– Sério? Então apressa-te ou diz-nos por favor o que havemos de fazer com ele, o homem, o sapo… não vês que a vida dele está em perigo?

Sai-me cada uma… mas qual perigo de vida? – Dito isto, reparo que todos os rostos ali se voltam para mim, esperando a solução, suspensos, aguardando a minha resposta. Eu não estou bem. Isto não está a acontecer, estou mesmo a precisar de férias.
Ainda assim, arrisco e volto-me para a geral, interpelando-os: Mas não são vocês os artistas, actores, compositores, escritores, enfim, criativos?
São. Eu sou vossa espectadora, leitora, que por vezes inspirada nos vossos trabalhos, se aventura a compor umas tricas para me divertir também um pouco. Então, não quis falhar com uma historinha ao desafio feito pela Tichinho (Agá Tê Tê Pê, dois pontos, dabliu, dabliu, dabliu e tal) mas não deu certo pois o tempo esgotou-se. Portanto, posso perfeitamente fechar o arquivo, descansada, ninguém mais sabe de nada, e quanto a vós, deixo-vos continuar em festa no meu disco rígido, se quiserem, está bem assim?
– E o homem-sapo-homem como é que fica? – Insiste ainda o dos Cantos que foi quem se lembrou de chamar-me aqui, parecendo-me sinceramente preocupado.
– Pergunta a mim?! Não acredito. Deixo-lhe em nota de rodapé o meu número de telefone e depois conta-me o que decidir que eu vou achar muito bem, pode ter a certeza. Divirtam-se.
– Mas não pode ser assim!
– E por que não? Não é verdade que na maior parte das vezes, aos vossos guiões lhes dão o desfecho mais votado pelo público? – Então confio-lhes este que fica em boas mãos.
– Eu nunca deixo um personagem meu morrer, sem lhe dar a mão até ao fim, isso não!
– …?! Não..?
– Não. Nasceu no meu coração, morrerá somente e de facto, quando este parar de bater-me no peito. Ele é meu e eu sou dele… percebes?
– Glup! A-acho que s-sim – gaguejei um pouco.
– Por isso, não devo dar-lhe um final ao acaso, nem me passará pela cabeça outro melhor que o teu. O teu coração e o meu, embora diferentes, são únicos, assim como tudo o que deles nasça – é essa a ideia – concluiu.
– Entendo dos Cantos. Eu pensava que você só escrevia por dinheiro…
– Não, eu ganho dinheiro fazendo um gosto ao meu coração e na esperança de que ele encontre outros, os toque, se encontre em outros e principalmente se deixe tocar por eles também.
Não foi portanto e por acaso que o meu deu com o teu e vice-versa. Assim, julgo que já terias em mente alguma solução que não faço a mínima ideia de qual seja, onde esteja, o que quer que seja, mas que por certo terá sido o melhor desenlace que o teu coração encontrou. Só por isso, nada do que o meu ditar te deverá servir para concluir este caso.

Depois de umas poucas trocas de impressões mais, despedi-me deles:
– Vou deixar-vos então, desejando que se divirtam ao máximo na vossa festa.
– Deixar? Mas vais dando notícias? – Queriam “furos” e também saber onde eu iria a seguir e adiantei-lhes um pouco:

– O avião. O avião do qual Brid saltou, ainda está no ar e vou ter que apanhar esse voo, ou melhor: a senhora idosa que anda por lá doida ainda à procura das três pastilhas que ele por engano engoliu com o café da manhã, cujo efeito, lhe provocou esse desvario todo que o fez lançar-se fora de bordo e encontrar-se agora no estado em que está.
– E que pastilhas são essas, não podes trazer algumas para animar aqui a festa? – Já riam e meio intrigados ainda.
– Vou ver se lhes arranjo umas boas para o juízo! Aproveito e tomo uma caixa inteira – prometi.

A música que já se ouvia ficava para trás. E agora perguntem-me como é que vou entrar naquele avião. Não vou! (isto afinal é giro..) Então não estou sentada em frente a um computador? Sei qual é a Companhia, o nº de voo, etc e tal, e então agora segue por e-mail, sms ou qualquer outra maneira, um aviso à tal senhora de que as ditas pastilhitas já moram há algum tempo no estômago de Patt que por acaso virou sapo. Faço uma pausa para um café, estico um pouco as pernas enquanto lhe aguardo resposta, boa?

E assim foi. Passados uns largos minutos (eu começava a ficar preocupada) levo um valente susto: A senhora era pesquisadora e revisora de textos, contratada pela autora dos livros Arre Porta e tinha prazo (infalível) a cumprir para a entrega das pastilhas que não tinham sido sequer testadas. Queria detalhes, o mais rápido possível, e para isso, pedia-me coordenadas, instruções, enfim, jeito de se encontrar o mais rapidamente possível com Br..Brid, o sapo!

Após alguns acertos ainda a fazer por mensagens, tudo se arranjou a tempo e horas. A nossa amiga organização, disponibilizou imediatamente um carro para ir buscá-la ao aeroporto. Miguel, o jovem repórter, tinha insistido em encarregar-se de tudo o resto e uma vez que só ele podia informá-la pormenorizadamente sobre o sucedido. Contou-lhe no caminho de volta, sobre a rapariga que precisara de cuidados médicos de urgência, mas que felizmente, as queimaduras que sofrera, principalmente nas mãos, não tinham sido em grau demasiadamente preocupante, e que só assim, lhe permitiram sair do hospital.

Encontrava-se portanto e já neste momento, noutro local, seguro, e que só poucos e pelo tempo que se pudesse, conheciam.
Mrs. Some Daky revelava-se bastante preocupada e insistia de dois em dois minutos com o motorista para acelerar: “Despacha-te, despacha-te, vamos!!” E assim, finalmente chegaram ao Largo de Camões, onde, rapidamente haviam que trocar de carro – coisa mais modesta e a fim de não darem nas vistas, está claro.
Chuviscou. Não podiam ser mais oportunas estas minúsculas gotinhas que se uniam num manto esbranquiçado e protector, obrigando qualquer curioso renitente a recolher-se sob os umbrais desbotados e estreitos que se alinham, juntinhos, e como querem, rua acima, rua abaixo, por estes bairros velhinhos, até à Baixa de Lisboa.


Despedindo-se do condutor, Miguel toma o volante e contorna a praça até à descida que o levará a seguir agora por uma larga avenida praticamente deserta àquela hora e Mrs. Daky animou-se um pouco pela velocidade ganha.
– Falta pouco – informou-a – e a partir daqui contamos consigo.
– Veremos o que se pode fazer. Por sorte, o rapaz não terá ingerido mais que uma das pastilhas – informou – pois que após haver recolhido os seus objectos pessoais, consegui ainda autorização para analisar os que utilizara ao pequeno almoço, e, no tabuleiro, encontrei as restantes das minhas, de facto misturadas com as de adoçante e espalhadas pelas várias peças do serviço e recipientes. Fi-lo no voo seguinte com ajuda de um assistente – continuou – bastante escrupuloso. A diferença de tamanho e formato é nula, devo dizer-lhe, o que nos exigiu um trabalho moroso, paciente e principalmente, minucioso, mas valeu – concluiu.
– E quanto às probabilidades de… ?
– Isso é já outra história e pode depender de outros factores, sabe? – Inquietou-se – Penso que talvez somente a autora de Arre Porta nos possa dar as indicações precisas nos passos a seguir, consoante indícios que tome por relevantes neste incidente absurdo – nonsense, nonsense – repetia para si própria – e tudo por um lapso meu ou tanto quanto o da assistente de bordo na troca de caixas! – Desabafou.

Tinham chegado ao endereço dado pela colega e Miguel certificava-se sobre o número da porta, procurando arrumar o carro o mais próximo possível. “Sim, é o nº 21” – e correu a ajudar Mrs Some Daky a sair do carro. A porta de madeira velha queixou-se mal ele rodou a chave e a entreabriu cauteloso, conduzindo-os a uma pequena entrada iluminada apenas por um pequeno lustre que pendia do tecto. Subiram por uma estreita escada de apenas meia dúzia de degraus até ao patamar onde se encontrava o elevador que, diga-se de passagem, não oferecia a menor confiança.
– Psssiu! – Sussurrou alguém.
– Credo, coisa, uufa! – Desafogou Miguel dando de caras com Márcia, a sua colega.
– Não precisas subir.
– Não precisavas estar aí que isto não é um conticho de terror, safa! – ralhou-lhe.

Por fim entraram no apartamento e a rapariga sorriu-lhes aliviada.
– Até que enfim! Sentem-se, fiquem a vontade – convidou-os.
Depois foi Márcia quem se prestou a preparar um chá a Mrs Some enquanto pedia e fornecia informações:
– Joana sofreu queimaduras, tem as mãos ligadas e por isso escolheu usar um par de luvas para recebê-los e com as quais sempre pode cuidar do s-ap… de Brid – corrigiu a tempo, indicando o sofá onde ele estava de momento dormindo ao colo da rapariga.
Via-se que também ela fazia um esforço enorme para manter-se acordada e Márcia continuou.
– Apesar dos sedativos que tomou, luta por não adormecer temendo que lho tiremos ou que alguém o leve.
– Se ninguém mais o quiser – interrompeu Joana – julgo ter o direito de ficar com ele, já pensaram? Afinal ele continua a ser Brid Patt, embora eu receie que os médicos, cientistas, quem quer que venha a pesquisar e a explorar o seu caso, ou até mesmo a família, se esqueça disso, não é verdade?

Aí estava um facto que merecia atenção, concordou Miguel apontando a situação para Mrs. S. Daky.
– Isso não vai acontecer. – respondeu a senhora – é por isso que estou aqui, creia.
Pousando a chávena sobre a mesa de apoio, ergueu-se e foi sentar-se ao lado de Joana.
– Como deve saber a criadora de Arre Porta, luta pelo Bem e mesmo que haja que produzir soluções opostas, sempre provê os devidos antídotos, não é? Então vim para que do laboratório trabalhe nos elementos necessários para este que eu mesma vou ter que descobrir, com precisão, aqui, in loco, e dar-lhos o mais rapidamente possível. Este em princípio não era para ter um efeito reversível e uma vez que estava destinado a um personagem asqueroso, com fim a eliminá-lo definitivamente de cena, percebe? Acabaria num pântano lodoso até ao fim dos seus di…
– Não me diga mais nada por favor – suplicou Joana – não vai resultar!

Miguel, para não engolir em seco, consumiu de um só trago a cerveja esquecida no copo – acho que preciso de qualquer coisa mais forte – confessou. Márcia esboçou qualquer coisa parecida com um sorriso mas sem alcançar sequer uma aproximação. “Isto está bonito” – pensou.

Só Mrs. Some não parou quieta. Passeava pelo apartamento observando tudo. Sem cerimónias, entrou pelo corredor e logo na primeira divisão à direita deu com uma mesa de trabalho sobre a qual estavam ordenadamente dispostas, caixas de lápis de cor, de cera, toda a espécie de pincéis, aguarelas e óleos. Blocos de papel, telas e um sem fim de instrumentos que só os pintores sabem para o que servem.
– Estes desenhos são seus? – Perguntou dali mesmo.
– São. O meu trabalho – respondeu Joana, por responder.
– Então, explique-me lá como é que você sendo artista não acredita no poder que a Arte tem de transformar tudo?
– Mas que arte, qual arte, qual coisa, tem a ver com isto?
– Diga-me: O que estava a fazer ali perto da passadeira vermelha, quem, ou o que, esperava encontrar ali?
– Inspiração, só isso. Também desenho roupa para ganhar uns extras.
– Ahh, inspiração, sei! – Quase gritou Mrs Some com ar triunfante. – E o que a “inspirou” a defender Brid do fogo que a queimou a si?!!
– Não passou de um simples gesto humano, uma reacção, nada de mais. Eu era quem estava mais próxima. Só eu o podia salvar a tempo…
– Isso é amor minha filha, não vê? E o amor é o pai de todas as artes, ou digamos que a Arte é o próprio amor. O melhor meio de transporte do que sentimos, para transmitir a outros. Se ele cura e restaura tudo, é do que estamos mesmo a precisar.
– Amor-vira-sapos – tirem-me daqui. – Joana ironizou – Ou por favor, alguém me dê uma aspirina.
– Não está a entender: quando ele a ajudou a levantar-se e tocou na sua mão ferida, por amor, fez com que a pastilha que tomou, fizesse o efeito. Ela foi produzida para um momento de sentimento forte, embora oposto a este e sem ser necessário que alguém tocasse o personagem a quem estava destinado, bastando que o tomasse com uma bebida. Mas aí o sentimento imperou, e mais, porque num ser humano – criaturas, já tão desprovidas de sensibilidade. Lembre-se que o mais leve pensamento, dirigido a outra pessoa, toca-a – concluía – imagine agora uma oração…

Joana escutava e começava a simpatizar com a velhinha, mas ainda assim desafiou-a:
– Pode ter toda a razão, só que para provar vai ter que trazer Brid de volta, certo?
– Certo, mas para isso vou ter que levar o seu amigo. Só um amor mais forte que o seu pode fazer isso acontecer – disse Mrs. Some, mergulhando num mar de pensamentos – você faria o mesmo por um sapo…? Deixou a questão no ar e logo começou a tomar providências.

Da pasta, tirou o seu portátil, ligou-o e começou a trabalhar nele, absorta, enquanto os outros vigiavam e se prestavam a qualquer ajuda. Joana, rendera-se ao cansaço e por fim, adormecia.

Duas horas depois, tudo estava resolvido. Partiam nessa mesma madrugada para Aiquistonacaba, em Londres, já agora para darmos uma voltinha, ou de frosques da nossa terrinha e porque soa melhor assim em qualquer história e porque esta até que é um conticho e tudo, mas também, porque é suposto ser lá que de momento se encontra a Fazedora de Sapos ou a criadora de Arre Porta, à nossa espera, de bata (ou não) à frente do caldeirão preparada para tratar da saúde ao pobre do B.Patt E vamos lá então.

Meu Deus do Céu! Estavam à espera de ver um castelo mal ou bem assombrado, com morcegos pendurados no tecto, um mordomo esquisito e magrinho, ir abrir-lhes a porta com um candelabro na mão? Que nada! Que apartamentão – só visto, e, de tal tamanho e feitio que nem o descrevo, não vá acrescentar mais umas duzentas páginas a isto!

Uma rapariga de uns 25 anos, baixinha, muito rosada e para o forte, abre a porta e conduziu-os a uma pequena sala, informando-os de que a senhora não ia demorar. Depois de instalados, pede licença e retira-se.

Enquanto isso, ficam a apreciar a riquíssima decoração da sala, os quadros e outras peças de arte espalhadas pelas divisões da casa pelas quais passaram e falam agora sobre a escritora. Miguel conta-lhes o que sabe sobre o passado dela, como se inspirou no personagem e onde escreveu as suas primeiras aventuras:
– Num café, imaginem. Onde se abrigava do frio, quem diria? E, após cerca de uma dúzia de editoras lhe terem recusado o livro, divide hoje com Achaque Espirre e A.Gata Crista, a lista dos escritores mais lidos do planeta e é mais rica que a rainha inglesa, Elisa Beta – acrescentou.

A conversa estava a ficar animada. Todos tinham uma opinião sobre este fenómeno literário, mas não deu para mais. Ela chegava seguida de séquito de criados, prontos a servir-lhes um chá. Convidou-os a passarem à sala contígua e assim fizeram depois de os habituais cumprimentos.

Terminada a refeição e ainda sentados à mesa, a dona da casa, tira de uma salva de prata, uma caixinha de cristal, onde estão três comprimidos de cores diferentes e explica: Cada um deles tem o seu efeito mas nenhum está completo. Há sempre um componente extra sujeito a uma condição que depende somente de uma atitude tomada por um dos meus personagens ou neste caso, por algum dos intervenientes e uma vez que, em filme, e embora sujeitos ao guião, os actores sempre terão alguma liberdade de expressão – coisa que não posso impedir e é imprevista, como calcularão. Assim, por sugestão de Mrs. Some Daky, convidei Julinina a juntar-se a nós por razões óbvias. Ela está informada já sobre o sucedido e avisam-me que acaba de chegar.

Miguel agita-se um pouco nervoso na cadeira, escova o fato com a mão, enquanto Mrs. Some se levanta, oferecendo-se para trazê-la de imediato à sala. Enquanto isso, Márcia prepara os aparelhos que traz consigo e toma umas rápidas notas, inquirindo ainda a senhora sobre a composição dos produtos coloridos, dentro da caixa de cristal.

– Não são absolutamente seguros – responde-lhe quando Anjúlia já está presente e pronta a prestar atenção – no entanto, preparei-os com o maior cuidado no meu trabalho, principalmente o azul, que deverá servir como antídoto de efeito quase instantâneo.
– Então por que esperamos? – quis saber Miguel, um pouco intrigado.
– Que Anjúlia tome o seu chá e calmamente nos diga de sua razão.

Mrs. Some que há um tempo se mantinha calada, repara que na chávena de Julinina estava depositada a pastilha igual à que Brid tomara e interrompe:
– Já agora e para fazer companhia a Anjúlia, – lembrando a regra de educação à anfitriã, – também eu tomava um pouco mais de chá. E nisto começa a servir: “Alguém mais quer?” – apontando o bule à chávena da escritora ao que ela não se pôde negar e na qual, discretamente, colocara o comprimido amarelo.
– Sim, muito obrigada. E de seguida, sorveu a bebida. Então Mrs Some fingiu sentir uma tontura e desastrada, deixa-se cair para cima de Anjúlia, entornando-lhe a chávena propositadamente em cima da mesa.

capítulo III


Poucos segundos depois, a escritora ficou imobilizada.
– Mas o que se passa aqui? – Perguntaram Miguel e Márcia ao mesmo tempo – sente-se bem Mrs. Some?
– O que se passa, é que por um pouco Anjúlia não virou sapo como Brid. Conheço todas as poções que esta bruxa usa e ao contrário do que disse, são eficazes porque sou eu quem primeiramente os pesquisa – explica ¬ e ela somente os prepara e por vezes junta-lhes outros ingredientes, que também eu conheço já suficientemente bem. Não havia portanto qualquer razão para adiar a administração do antídoto, percebem?
– E então por que não o fez ela? – Atónitos inquiriam todos.
– Penso que para forçar Anjúlia a assinar um contrato com ela que há muito deseja, ameaçando deixar Brid neste estado para sempre. E continuou:
– Assim, daria o antídoto a ti Anjúlia, na condição de o cumprires pelo tempo que determinasse, e, caso e ainda assim o recusasses, obrigar-to-ia a fazê-lo, administrando-te o amarelo que acabou de tomar. Pelo que sei, só existe esse mesmo que vemos ainda no cristal e nem eu mesma estudei ainda a sua composição, pois, não houve tempo para eu ler algo que o mencionasse e portanto sabe-me sem quaisquer indícios sobre o mesmo.
– De facto, tenho vindo a receber correspondência dela nesse sentido – confirmou a actriz – sem que no entanto lhe tenha respondido uma só vez.
– Aí está! – Continua Mrs. Some – O que para ela é uma afronta e já que quer o mundo inteiro rendido as seus pés. Isto está a tomar já contornos demasiado sérios, sem limites e se não, vejam:

– Depressa conquistou o mundo infantil, e, logo de seguida e algo pressionados por estes, os pais, – de todas as áreas profissionais, raças, religiões, etnias. O mundo está a mudar e cada vez mais lhe pertence. Ela reina e só vai parar quando a tiverem como única senhora e deusa. Os seus livros já são utilizados em escolas, cujo estudo e trabalhos dos alunos, contam para nota. Entretanto, proliferam as de bruxaria que, como sabemos, é uma religião que vai tendo cada vez mais seguidores Já não se trata apenas de dinheiro, mas de poder – rainha das trevas – vejam: única! E porque até aqui só conhecemos o Mal, ao qual não se associa companheira alguma. Ainda…– acrescentou.

Arrepiados, apertaram-se em grupo escutando-a atentamente.
– Em várias entrevistas que esta mulher concedeu, ela afirma-se adoradora da besta e reparem que cada vez mais a Bíblia é retirada do ensino, dos hotéis, instituições, enquanto brotam novas filosofias ideologias e se adere cada vez em maior número, ao ioga, magia e seitas sem fim.
– Mrs. Some! – Surge finalmente a voz de Joana que se mantivera em silêncio todo este tempo – Há então algo que não me faz sentido, a ver com o seu discurso anterior, lá em casa. Convencia-me de que nestas aventuras prevalecia o Bem e agora revela-nos outra teoria. Explique-se, por favor – pediu-lhe.
– Sim, com efeito, contradigo-me. Quis apenas testar os seus conhecimentos cristãos e convicções religiosas, peço desculpa, uma vez que no seu estúdio, reparei que praticamente todos os seus quadros retratam personagens e cenas bíblicas.
A maior parte dos leitores e público destas aventuras, inadvertidamente são induzidos a acreditar que de facto se luta pelo Bem e que este vence, mas o que acontece e não passa despercebido a quem os lê e vê para estudo aprofundado, é que se arquitecta, e linha a linha, um culto oposto que assim vai construindo o templo do mal. Só com algum conhecimento se verifica que a escrita está repleta de símbolos contrários aos dos cristãos, de significados antagónicos subtilmente escondidos nas entrelinhas, aos mais incautos, podendo afirmar que de facto se trata da religião que a autora e seus fãs, na realidade, professam.

Quis portanto trazê-la, Joana. E tomei a liberdade de pegar emprestada a sua Bíblia, logo que a descobri na estante em frente à sua mesa de trabalho. Tenho-a aqui mesmo comigo. – Voltou-se e tirou-a de uma pequena maleta, acrescentando: Vai-nos ser preciosa, verá.

– Então apressemo-nos a administrar o medicamento em Brid, por favor, para sairmos logo daqui – lembrou Anjúlia.
– Sim, chamemos-lhe assim – apressou-se Mrs. Some prestando-se a isso.

O grupo uniu-se no mais profundo silêncio, sem se ousar o mínimo gesto, com toda a atenção posta no trabalho da incansável senhora.
Estava feito. Aguardava-se o tempo que levaria a causar a acção desejada. Até agora nada. Os segundos compreendiam horas, os minutos pesavam dias e aquela meia-hora vivida, sem nada suceder, contava um interminável suplício, só comparável a um discurso do Só-Grades…

– Meu Deus, o que fazemos? – Irrompeu Anjúlia num pranto.
Nesse momento, o sapo mudou de posição. Agitou-se, parecendo que preparava um salto, mas não. Olhava-os, serena e simplesmente, mas já era alguma reacção.
– Não será, Mrs Daky? – Perguntou Márcia.
– Pode ser, esperemos que sim – confiou.

Nisto, Joana levanta-se e apressadamente tira as luvas, desembaraça-se das ligaduras e corre para a mesa onde encontra a pastilha branca ali esquecida. Pega e toma-a de seguida com um gole de chá.
– Nãaaaaaaaao! – Gritam-lhe – mas já tarde.
Temos dois sapos, - terão pensado, – enquanto os olhavam estupefactos e tal a rapidez do imprevisto.
– Joana-sapo não adormeceu como Brid, nem precisou de um gesto que lhe provocasse a transformação imediata – observara Márcia.
– Tem razão – respondeu Mrs. Some – mas vejamos que esta não era mais uma das minhas pastilhas; fora já trabalhada e trazida pela bruxa (que elas as há) na caixa de cristal, destinada a Anjúlia.
– Certo! – Concordaram todos.

Márcia mantinha-se atenta aos bichinhos e ajudava Joana a subir para o sofá onde Brid se encontrava ainda e foi quando assistiram ao inconcebível: Aproximaram-se, parecendo que se reconheciam. Então ela ergue-se nas patinhas traseiras, toca uma das dele, a mesma que a levantara do chão quando se ferira. Por fim, e instantaneamente, juntam-se ao grupo, em pessoas – de carne e osso. Deu lá para se perceber como!?

– Incrível! – Gritam contentes, de alívio, felizes! Abraçam-se, sorriem, choram, pulam e dançam. Dura isto ainda algum tempo e até concordarem que era hora de partir, quando, do outro lado da sala, ouve-se uma espécie de uivo. Apanhados de surpresa, voltam-se para trás e aterrados, dão com a dona da casa contorcendo-se na cadeira, de olhos esbugalhados, proferindo intermináveis rosnares, furibundos, horrendos e de se fugir.

– Vamos, que esta não é de se fiar e ainda nos engole vivos!
– Sim – concordam. Agarram nas suas coisas e procuram a saída. Atravessam a segunda sala, depois o corredor e só então notam que Mrs. Some não os acompanhava mais. Esperam então um pouco por ela. Afinal, a idade nestas coisas conta e ela devia estar muito cansada.
Ansiosos por se verem longe dali, dão-lhe no entanto algum tempo mais. Depois ficam preocupados e Miguel oferece-se para voltar atrás a dar-lhe uma mão.
– Por favor despachem-se então, não te percas e tem cuidado contigo. – Diz-lhe Márcia dando-lhe uma palmadita de apoio nas costas.

Vêem-no virar o corredor à esquerda e suspiram a cada minuto, com os olhos postos nesse ponto da casa, esperando ouvir-lhes os passos de volta, mas, de súbito assustam-se, dando com ele a aparecer numa corrida desenfreada, pálido e quase sem fôlego.
– Ai valha-nos Deus, que foi agora? – Custa-lhe falar precisa recobrar e por fim, cambaleante, Miguel consegue titubear:
– Nunca vi nada assim. A outra mulher está louca e embora meia paralisada ainda, retém Mrs. Daky num estado de hipnose, transe, sei lá o que é, que não reage, não me obedece, e não me seguiu. Consegui trazer-lhe as coisas, mas ela está que nem uma estátua de mármore, de sal, ou múmia paralítica; não soube o que fazer e temi ficar ali que a outra vira bicho com certeza, não sei do quê! – Desabafou.
– Liiivra! E agora? – Márcia inquiria os outros.
– Preciso de água, por favor… – Miguel suava frio.
– Aqui ninguém mais bebe água, coisíssima nenhuma, né? – Ordenou Brid.
– Sim, claro – concordaram. Subitamente Joana lembra-se da maleta de Mrs Daky e começa a remexê-la até encontrar e tirar de lá a sua Bíblia – Não sei para o que, quis trazê-la, mas por certo não a usou. Será que…? Hmmmm… Se quiserem não esperem por mim, vou levar-lha. E corre para lá.

Dá com o quadro que Miguel descrevera minutos atrás e apesar disso, manteve a calma possível.
– Mrs. Some, olhe para mim, ouça, veja. Trouxe-lhe a Bíblia – depositou-a nas suas mãos inertes, mas a senhora não reagia. Então, repentinamente, arranca o fio de ouro que trazia ao pescoço, no qual pendia um crucifixo. Mostrou-lho e agora sim, Mrs. Some moveu-se. Pegou nele e apertou-o fortemente contra o peito e rezou: “Só Vós sois o Santo, só vós o Senhor, Só vós o altíssimo Jesus Cristo! Com o Espírito Santo, na Glória de Deus Pai, ámen”
Apontou-o na direcção da mulher sentada na cadeira e logo esta perdeu os sentidos. A expressão dos olhos e do rosto amenizou. Quase como a de uma criança inocente que adormecia.
– Não temos tempo a perder, Joana. Ajude-me aqui enquanto resolvo uns assuntos no laboratório. Mantenha a Cruz voltada na sua direcção e se costuma rezar, faça-o e procure na Bíblia uns textos que goste. Recite-os ou escolha outros adequados a esta situação. Eu não demoro nada a cancelar toda a produção em curso e a eliminar algumas fórmulas que precisam desaparecer definitivamente do mapa e da base de dados. Levaram séculos a serem compostas mas bastará muito pouco para bani-las do sistema e do planeta para sempre.

Deixou-a por uns momentos que lhe pareceram séculos. Joana tremia um pouco e murmurava:
“S. Miguel Arcanjo, protegei-nos,
sede o nosso refúgio contra as maldades
e as ciladas do demónio.
Deus o submeta,
instantemente o pedimos;
e vós, Príncipe da milícia celeste,
pelo divino poder,
precipitai no inferno a Satanás
e aos outros espíritos malignos
que andam pelo mundo
procurando perder as almas.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Ámen.”

S. Miguel Arcanjo, protegei-nos… (…) Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo ámen.
S. Miguel Arcanjo, protegei-nos… (…) Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo ámen.

Foi assim que Mrs. Some a encontrou hora e meia depois. Vinha carregada de documentos, em pastas separadas e outros, poucos, dispostos propositadamente em pilha, ao de cima.
– Estes são uns originais valiosíssimos – mostrou-lhos – a quem lhes der a importância, está claro, e, infelizmente, são muitos e mais que as mães. Pois olhe o que lhes faço. E nisto, rasga um a um, em quatro, e vai atirando-os para a lareira.

Joana observava na atitude de Mrs. Some, um misto de tristeza e de orgulho. Comoveu-se. Fazia-o lenta e quase solenemente. No fim, o seu rosto brilhava em paz.
– É tudo – anunciou – e agora podemos ir.
– Assim? – Perguntou Joana apontando a monstra-adormecida na cadeira.
– Sim, já não demora quem venha tratar dela. Cuidei disso – assegurou – quanto aos nossos amigos, esperam-nos já num hotel aqui perto.

Na manhã seguinte, o grupo separava-se. Despediram-se tomando um fausto pequeno-almoço no terraço inundado por um radioso sol que nem por encomenda de Ball Gites, e os enchia ainda mais de alegria. Mais tarde, B. Patt viu-se obrigado a esclarecer a imprensa, que sim, que tinha aceitado um trabalho em Portugal, dirigido por um dos mais conceituados peritos em efeitos especiais e que não passara disso.
– And that’s all – concluía ele alegremente.

Mrs. Some, é que nem por isso lhes parecia animada. Afinal tinha dedicado largos anos àquela obra que se vira agora obrigada a terminar.
– Não foi fácil conseguir este trabalho, sabem? – Contou-lhes – A autora de Arre Porta era muito exigente e penso que o que me valeu na selecção rigorosa que fez a separar-me e por fim, dos imensos candidatos ao mesmo, bem como em ganhar-lhe a total confiança, foi a dedicação que sempre ponho no que faço. Sou uma boa profissional e para mim, contava como prestar serviço a uma boa causa, uma vez que as crianças nos merecem o melhor. De bom grado me empenhei e envolvi totalmente, convencida de que os meus préstimos, posteriormente, viriam a valer e de alguma forma, à nova geração.

Agora era a frustração, mas depressa – sentiram eles – ela iria inverter a situação e o seu fracasso, em campanha oposta e depressa se empenharia noutra boa causa. E assim foi. Começou a escrever sobre o assunto, deu palestras de evangelização pelo mundo fora e depois do seu terceiro volume, abriu uma creche para crianças desfavorecidas. Depois uma escola, e assim, sempre foram mantendo o contacto com ela. Era feliz.

Joana, colaborando de princípio no seu novo projecto como ilustradora das primeiras brochuras e depois dos livros, firmara com ela uma amizade profunda e mais tarde, concluiu em Londres os seus estudos em Artes. Começava agora a expor os seus trabalhos com algum sucesso e graças às excelentes coberturas dos mesmos, feitas pelos seus amigos e convidados de sempre, os jornalistas Márcia e Miguel que a incentivaram de início. Tinham-na como a uma filha.

– E por falar nisso, não era altura de pensarmos seriamente em termos uma criança? – Miguel sabia que ia surpreendê-la com a pergunta.
– E o que te leva a crer que te tenho pelo meu príncipe encantado? – Ria.
– Ora, porque sei que sempre achaste que tenho cara de sapo. Não basta? Assim, e com sorte, quem sabe se não conseguiremos uma aproximação chegada, ou mesmo a ter um de verdade?
– Maluco! Gosto mesmo é de rãs, ao alho e com uma pitada de pimenta, indispensáveis nas minhas dietas. Estás a insinuar que estou a precisar de uma, é?
– Não. Estou mesmo a pensar em construir uma casa sobre uma poça, sério! Ajudas-me?

Um ano depois, no dia em que lhes nasceu o primeiro filho, admiravam-no embevecidos, contentíssimos da vida.
– É lindo, não é?
– Mais, seria impossível. – Respondeu a mãe – É tão parecido contigo!
– Então sempre temos um sapo, eu não to prometi?
Márcia mudou de expressão e com um tom sério na voz, disse-lhe:
– Miguel, agora que tudo isso acabou e depois da notícia sobre a trágica morte dessa senhora, não falemos mais sobre o assunto.
– Tens razão, nem a brincar – concordou – mas não posso esquecer que foi graças a ela que te conheci e temos agora este anjinho.
– É verdade. E que temos Joana, fizemos excelentes amizades e que muitas crianças hoje, são mais felizes. Muitas outras ainda virão a ser e tanto quanto o queremos para o nosso filhito.
– Outra coisa Márcia, já pensaste…?
– O quê? – Ficou curiosa.
– Não gravámos… nada do que vimos acontecer…
– Ainda bem.
– Teríamos ficado ricos…
Zangada de verdade, Márcia quase lhe gritou:
– Miguel, Não encontrarás nunca maior riqueza que na obra de Mrs. Some e no bebé que vês aqui! Estás a ter um ataque de ansiedade pela responsabilidade recente de teres agora um filho e por isso te ordeno que vás imediatamente para debaixo do chuveiro para logo de seguida ires beber uma cerveja com os amigos, vá!

Obedeceu-lhe rindo. Gostava muito dela e mesmo quando arreliada. Porém, em vez de sair, sentou-se à secretária e abriu pela primeira vez um livro em branco que esperara por este dia, no qual começou a escrever. Passada uma meia-hora, concluía: “ E este, meu querido filho, é o primeiro conselho que te dou, ditado há pouco pela tua mãe que nos ama muito. Vamos por isso ouvi-la sempre, está bem? Eu prometo e como prova, assino com o meu nome e mais tarde, quando tu souberes ler, escreverás o teu abaixo do meu, está bem?”

Guardou o livro dentro de uma das gavetas da secretária, levantou-se e foi espreitar o quarto de Márcia. Mãe e filho dormiam como anjos. Deu graças a Deus e ficou de vigia, sentado no pequeno sofá da sala ao lado, lendo pela segunda vez a mensagem de parabéns que Mrs. Some lhes havia enviado há poucas horas, na qual adiantava algo sobre o seu trabalho:

“Baseando-me nos gestos altruístas de Joana que como eu conhecem, e na sua imensa bondade, conto usar na minha próxima palestra, a inspiração de alguns santos, em frases como esta que tão sabiamente, S. Gregório diz: “A humildade é uma descida rumo às alturas do Amor.”

Que acham? Joana, Anjúlia e Brid vão estar presentes. E quanto a vocês, meus amigos, as maiores felicidades e não se esqueçam que na vida nova que como pais, agora começam, esta vossa amiga, em nome de todas as minhas crianças, promete-vos e diz: “Estou Conticho!” – Para tudo e sempre! Em Cristo e Maria,

Some-Daky”

Por Malu de A Capela

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8 comentários:

  1. Apenas li o I capítulo e mais um pouco...

    Está uma história bem divertida... Sorrisos...

    Tudo bom... Abraço, Fá.
    ~~~~~

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  2. Oi Fá, obrigado pelo texto maravilhoso, bom final de semana.

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  3. Genial historia muy buenos personajes te mando un beso

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  4. Que aventura, isso sim, tipo comédia e muita ação! Fiquei no I cap.
    Beijinho 😘

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  5. Uma história cómica, comprida, e complexa
    :-)

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  6. What an Exciting story!

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  7. So much is going on here!

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«Em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos.»
(Antoine de Saint-Exupéry)
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