01/03/2020

4Guardando na prateleira histórias dignas de registo (IV)

Um desafio em Julho de 2008, sobre uma pintura publicada aqui neste mural da minha C(l)ave - Partilha de uma muito querida (4), um acrílico sobre tela da minha Autora da Capa de Memória Alada -, resultou num conjunto de histórias que só me lembrei agora (passados quase 12 anos) de recolher para memória, e que são dignas de serem lidas por quem se quiser dar a esse trabalho. 

Segue-se  a  4ª parte:

Uma Estória (10)

A noite já vai alta, mas para ela pouca diferença faz, está acostumada a deitar-se tarde, mas esta noite não tem intenção de ir dormir.
Esta noite acendeu três velas no velho castiçal de família, tinha um carinho especial por ele. Era daquelas relíquias que vão passando de mãe para filha. Gostava de pensar que aquele castiçal tinha séculos de existência, que tinha pertencido a parentes importantes, talvez até da nobreza, na altura em que Portugal ainda era uma monarquia.
Nunca percebeu muito bem porquê, mas gostava de ver as velas arderem naquele velho castiçal cheio de história, gostava de ver as chamas dançarem ao som de uma melodia muda. Lembrava-se de que em criança passava horas a olhar para as velas, na noite de Natal, quando a sua mãe as acendia no castiçal.
Hoje não é natal, mas ela também já não é criança e a mãe também já não é viva, faleceu à dois anos num horrível desastre de automóvel.
Estamos no inicio de Janeiro e um frio intenso veste as noites, mas ela não sentia frio, não sentia nada. Sentada no chão olhando as chamas, a sua mente era assaltada por todas as suas memórias, por todos os seus fantasmas, por todos os seus medos e ela via tudo isto desfilar à sua frente como se ela própria fosse alguém de fora, como se estivesse a assistir um filme num cinema.
Não consegue evitar, ela precisa destes momentos, são momentos só dela em que pode meditar à vontade, rever toda a sua vida, todos os seus sentimentos.
Acompanhada pelo seu velho castiçal entra no mais íntimo do seu ser, nas profundezas da sua existência, enquanto lá fora, todo o Universo dorme tranquilamente.

Por Metódica do Método

Jurei que ficaria assim... sentada a um canto até ao fim da vida! À espera. Cada dia que passe, cada noite que caia, cada raio de sol, tempestade, trovoada, será um momento nos muitos momentos de espera da minha vida. Porque a vida não depende sempre e só de nós, porque desejar que isto ou aquilo aconteça não é garantia de nada, porque quis ser feliz e não fui... fico, pois, aqui à espera... à espera... de braços cruzados com a vida, de costas voltadas ao destino, de olhos fechados ao mundo... só eu, só eu no silêncio, só eu comigo... sozinha... por momentos julgo ver aquele sapo que brincava comigo quando a vida ainda não me desiludia, mas esfrego os olhos e regresso à realidade... está escuro, está frio... continuo à espera e nada acontece, porque a vida parou para mim, continua a correr lá fora... sinto-me a ficar para trás, perdida num vazio... falta-me o ar... uma janela... num impulso corro para ela, abro-a e sinto o ar na cara, o vento frio nos cabelos, respiro fundo e deixo a vida entrar dentro de mim... por momentos sinto que pude decidir entre ficar no canto, inerte, e voltar a viver...

Por Sónia Pessoa de Os Livros que Ninguém Quis Dar a Ler

Uma Estória (12)

A lenda do Amor

Catarina, uma jovem bonita, inteligente, acostumada aos bons luxos da vida, estava habituada a ter muitos rapazes de volta dela. Ela era a mais popular!Um dia, tudo mudou, ela nunca chegou a perceber porquê, mas deixou de gostar que os rapazes andassem sempre de volta dela, e precipitadamente começou a ser um pouco menos simpática e acabou por afastar todos os rapazes da sua vida.Mais tarde, acabou por se arrepender e quando queria arranjar o amor da sua vida, estava mais desesperada que nunca e cada vez mais fechava-se. Leu num livro que segundo uma lenda, para arranjar o amor da vida dela teria de arranjar um candelabro com três velas e um “amigo”.Catarina, sem ter amigos decidiu levar o primeiro animal que encontrou: um sapo. À meia-noite, ajoelhou-se a um canto do seu vazio quarto, com o seu candelabro e as três velas acesas e o sapo em cima do seu colo.Nada mais se sabe sobre esta história, mas pensa-se que o sapo se transformou num príncipe. Há quem diga que nada aconteceu e que Catarina sofreu até ao fim da sua vida. Fica agora ao critério de cada um terminar a minha história...

Por Sara Cabral
(postado por empréstimo no Método)

Uma versão de continuação por:

Marta 02/09/08, 08:48
Era meia noite em ponto, quando os seus lábios tocaram o sapo. De imediato deu-se um puffft, e uma fumarada imensa invadiu o quarto. Catarina, tossiu por cinco minutos, antes de conseguir vislumbrar a bela rapariga em pé, ao lado da janela.
Uns, dizem que foram felizes para sempre, outros dizem que Catarina sofreu até ao fim da sua vida, vitima do preconceito alheio!
Outra versão de continuação por:


Costuma dizer-se que se não os podes vencer, junta-te a eles.
E foi o que acabaria por acontecer. Catarina, farta de tentar procurar o amor da sua vida entre aqueles sapos todos sem encontrar aquele que quisesse verdadeiramente transformar-se em príncipe, acabou por transformar-se, ela própria, em sapo!
Ainda outra versão, mais recente, de continuação por:

Pois, o sapo transformou-se num príncipe intolerável, autoritário, um jovem sem escrúpulos, manipulador e vingativo. E aprisionou Catarina em casa. Como a rapariga tentou escapar às garras daquele ser monstruoso, ele prometeu isola-la de todos os olhares, Catarina aprenderia a amá-lo, só a ele, apenas a ele. E decidiu que habitariam uma mansão , solitária na floresta, ladeada de arvoredo. O príncipe belo, tornou-se cada vez mais escuro e sombrio com o passar dos anos. Catarina, a jovem formosa, desencantada e desiludida, procurou conforto num velho piano, foi ali, que tocou as mais extraordinárias composições musicais. Gatafunhadas em papéis sujos e velhos. Como o príncipe rasgava e incendiava-os irado, ela aprendeu a defender-se e a escondê -los em lugares impensáveis. Depois da sua morte, o casarão foi descoberto e explorado e finalmente a suas obras musicais saíram para os salões da alta nobreza e Catarina, nome pronunciado de boca em boca, nunca mais seria esquecida. Do malvado príncipe, nada, nem referências, nem como terá sido o seu fim. Como se jamais tivesse existido.
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9 comentários:

  1. Li apenas algumas histórias e, de um modo geral, gostei.
    A ideia de as publicar foi boa, mais vale tarde do que nunca...
    Beijo, querida amiga Fá.

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  2. É MUITA HISTÓRIA!

    É PENA NÃO TER REPUBLICADO UMA POR UMA...

    Beijinhos
    ~~~~

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  3. Impossível ler tudo, tempo houvesse... assim assusta, efetivamente uma por uma, tranquilamente para o leitor saborear ... eu agradeço pela parte que me cabe! Parabéns!

    Beijinhos

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  4. Bom dia Fá,
    Passando para saber de vc querida, espero que estejas bem,mesmo em confinamento.

    Gostaria de ler tudo aqui, mas devido aos textos longps falta tempo para tal, que tal um texto de cada vez?É bem prazerosa a leitura aqui, pena ser tão estendida.

    Feliz e abençoado dia.

    Bjss

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  5. e vou continuar a ler :)
    Abraço para a Catarina que virou sapo/a
    brisas doces **

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  6. Geniales historias me gustan las dos ultimas. Te mando un beso

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  7. Não consegui ler tudo tb
    Mas do que li, gostei

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  8. Foi boa ideia publicar. Já estava atrasada neste diálogo com os seus seguidores.
    Tudo de bom.
    Um beijo.

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  9. La segunda me emocionó

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«Em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos.»
(Antoine de Saint-Exupéry)
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