27/02/2020

2Guardando na prateleira histórias dignas de registo (II)

 Um desafio em Julho de 2008, sobre uma pintura publicada aqui neste mural da minha C(l)ave - Partilha de uma muito querida (4), um acrílico sobre tela da minha Autora da Capa de Memória Alada -, resultou num conjunto de histórias que só me lembrei agora (passados quase 12 anos) de recolher para memória, e que são dignas de serem lidas por quem se quiser dar a esse trabalho. 

Segue-se  a  2ª parte:

Por Belisa do Estrela no Céu

Mas o que hei-de dizer
Olhando para ti meu amigo
Mas o que hei-de fazer
Para poder falar contigo

Vou imaginar que tu és
O meu príncipe encantado
Vou procurar de lés a lés
E também por todo o lado

Quero encontrar o meu amor
E ter alguém só para mim
Meu coração é um tambor
Pois sinto-o bater assim

Neste canto à luz da vela
Estou falando contigo
Será a noite mais bela
Tenho-te a ti como Amigo!



Por Su da Teia de Ariana

- Juro que não falo mais contigo!
-Não entendo...isto antigamente, não era bem assim. Nós é que corríamos atrás do sonho e das princesas perfeitas, do beijo libertador, e tentávamos assumir uma outra personalidade qualquer!! - disse o sapo, encolhendo os ombros, se realmente os tivesse.
- Não me interessa essa conversa de psicologia invertida. Já te disse que só vou continuar a falar contigo se me deixares dar-te um beijo! Até lá...bem que podes procurar outra pessoa que saiba conversas contigo!
- Sabes bem que isso é impossível. Hoje em dia tudo o que foge ao normal é olhado de lado, assim com uma certa indiferença...como se até nem existisse. Ou se tivesse passado. Os da tua espécie têm medo do pseudo-anormal! Na realidade, eu até poderia ser a tua consciência materializada, como um certo insecto que uma outra história atrás. Só não tenho é chapéu, asas e bengala!
- Na realidade, eu posso mesmo deixar de falar contigo...e fazer de conta que não te vejo. É muito fácil. - a menina continuava encolhida no seu canto, de braços cruzados, recusando-se a olhar para o sapo que tinha ao colo.
- Eu não posso ser o teu príncipe encantado. Isso eram só histórias...sabes lá o que é que acontecia quando elas terminavam após aquelas palavras: E Viveram Felizes Para Sempre!"...a rotina, a casa, os filhos...olha, a Cinderela acabou por se viciar em comprimidos para dormir porque o seu príncipe ressonava deamsiado alto e não a deixava dormir!! As coisas não são bem como eram contadas. Afinal, vives num mundo de fadas, ou quê?!
- Não vivo, mas gostaria. Gostaria de acreditar que as histórias têm sim finais felizes e que por detrás de cada um há sempre aquela alma perfeita que apenas precisa de umas arestas limadas...mas tens razão...não posso forçar o que não é real...
- Isso sim...estás a ver? Eu tenho valor pelo que sou...um amigo teu que fala contigo, para além deste aspecto. Não sou mais nada do que isto. Outros tempos foram...
- Desculpa ter insistido tanto. Preciso sempre d eter algo para me agarrar. Olha, vou buscar-te uma folhinha fresca de alface e já venho!

A menina levantou-se e fez uma festa amigável no dorso do seu amigo verdusco. Enquanto fecha a porta, o sapo transforma-se num belo príncipe:

- Bolas, do que me livrei!! Passei séculos tão sossegadinho como sapo quando veio a outra e deu-me um beijo para me chatear durante toda a vida. Agora que voltei a esta paz...não quero outra coisa! Tenham mas é cuidado com os beijos!!



Uma Estória (6)

Por zeroz do Apontamentes

Ana levantou-se com uma estranha impressão na perna. Coxeava e tinha um leve ardor. Não se lembrava da noite anterior nem de parte do seu passado. Como de costume foi para colégio. As freiras fizeram um comentário sobre a sua postura na aula: Longinqua, alienada, de mente afastada, quase de corpo ausente. Mais um dia terminou e voltou a casa, jantou no orfanato, e à noite saiu para o clube. As noites negras e que tanto adorava eram a sua única razão de existência, tudo o resto eram apêndices. Os encontros com Jaime, seu amante e mentor, foi o quem a integrou na seita. Os rituais fascinavam-na e cada vez mais dependia deles para entrar em transe e escapar por momentos da sua vida modesta e mesquinha. Chegou a casa às tantas, continuava a coxear, deitou-se com Jaime e adormeceu esgotada mas deleitada.

Quando acorda tem uma espécie de gelatina sobre a boca e os olhos, quase não os consegue abrir. No banho tenta retirar o visco que a cobre. No joelho uma força estranha, uma dormência, uma energia bizarra a cobre, um caldo antigo e primordial sobre a rótula. No médico: "um caso raro"; "é pra ser fotografada"; "não vamos lancetar a coisa"; "Esperemos a evolução!". É medicada com drogas especialmente para doentes crónicos e casos de maleitas hiperactivas. Volta para casa a flutuar. No dia seguinte estava imóvel e vegetal sobre a cama. Um sorriso nos lábios disformes que se decompunham, os olhos gelatinosos desfaziam-se, por ciam dum joelho um girino desenvolvia-se sobre a epiderme. Por dentro do corpo a espinal medula ligava-se à perna esquerda, a respiração não era feita pela traqueia, mas sim por orificios junto à coxa. os lábios colam-se a face implode aos poucos, o cérebro deixa de funcionar. O girino desenvolve-se agarrado ao corpo. Utiliza-o para se deslocar. Numa ultima tentativa os médicos acham o fenómeno bizarro mas esperam mais desenvolvimentos, e através de cirurgia plástica reconstituiem-lhe a cara. Apesar disso os electro-encefalogramas acusam morte cerebral, as ligações sinapticas cortadas, a ligação motora interrompida. Quem controla o corpo como uma marioneta é Jack, O Sapo. É assim que se chama, e chegou para ocupar o seu lugar na carteira de Ana.

Torna-se o melhor aluno, já ninguém estranha o sapo no corpo, apenas sentem que Jack se devia livrar daquela carcaça. Mas Jack sente-se bem, acaba o colégio com excelentes notas e forma-se em direito. Jaime mantém uma relação com Jack, assumem-na perante todos e abrem um escritório de Actividades Juridicas no centro da cidade. São felizes finalmente.


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26/02/2020

1Guardando na prateleira histórias dignas de registo (I)

 Um desafio em Julho de 2008, sobre uma pintura publicada aqui neste mural da minha C(l)ave - Partilha de uma muito querida (4),

um acrílico sobre tela da minha Autora da Capa de Memória Alada -
resultou num conjunto de histórias que só me lembrei passados quase 12 anos de recolher para memória, e que são dignas de serem lidas por quem se quiser dar a esse trabalho. 

Seguem-se (1ª parte):

Uma estória (1)

Esta é a minha estória - Por Ni do Branco Escuro  

Esta é a minha estória, neste canto que protege a minha vida… esconde segredos e alimenta sonhos. Acredito na felicidade como dom alcançável e é por isso que tenho estas velas… cuja luz me há-de manter sempre desperta para os subtis sinais da vida.
Ah… e tenho um sapo. Tem os meus olhos pela ternura e esperança com que o olho e assim chegará longe! E este é o meu retrato. Vêem? Sou linda…


Uma Estória (2)

Era uma vez… Por Patrícia do More Than Words

Esta é a história de uma menina órfã de dezoito anos, a quem a vida escolheu como sendo um membro de uma das famílias mais nobres e ilustres da cidade. Maria, de seu nome, prima pela sua grandiosa maturidade, evidenciando um doce e feminino toque que desnuda a sua idade ainda precoce.
Mãe de Maria morreu tinha ela apenas dois anos de idade. Sempre num meio rodeado de criadas e de motoristas, Maria foi aprendendo a viver segundo regras e rotinas que lhe iam sendo impostas.

O pai da menina, eloquente diplomata, sonha uma carreira invejável para a filha, a quem sempre satisfez todas as necessidades económicas e materiais. Carinho e afecto não é linguagem que conste no seu dicionário, aliás, Maria está muito longe de se sentir amada.
Cabelos negros e longos esvoaçam ao sabor da brisa quando passa, a sua silhueta definida pelas curvas bem acentuadas do seu corpo e as excelentes combinações de vestuário modelam-na numa jovem elegante e atraente.
Maria vive quase sem ambição, dado que não é carecida de luxos ou caprichos. Os seus pequenos sonhos são considerados impossíveis. Apaixonada pela natureza, deseja em segredo ser bióloga, algo que nem ousa pronunciar perante a postura inquebrável de seu pai, que insiste numa carreira política.
Apesar de tudo, é uma rapariga sonhadora que idealiza um príncipe encantado montado num cavalo branco que um dia chegará para a vir buscar e para a libertar da sua vidinha de prisioneira. É assim que passa horas e horas a fio num pequeno sótão de arrumações que constitui um local mais discreto à criadagem.
Sente-se bem ali, talvez por ser a única divisão da casa que menos se parece com um museu, em que tudo tem que estar no sítio certo à hora certa.
Maria tinha um pequeno sapo, Greeny. Era com ele que passava grande parte do seu tempo livre no resgatado sótão. Era ele o bom ouvinte dos seus desabafos, problemas e das histórias dos seus sonhos.
Um dia, contagiada pela magia dos sonhos e da fantasia, achou por bem, uma vez na vida, tentar seguir o rumo do seu sentir e deixar-se envolver pela irrealidade dos devaneios.

Olhou Greeny nos olhos, sentiu-o a aproximar e suavemente o colocou na palma da sua mão. Pensou: “Como é que um animal tão pequeno pode significar mais para mim do que a minha família ou até do que as minhas regalias?”. Foi então que se chegou mais de perto, descalçou as luvas para o sentir na plenitude. Fechou os olhos e só o sentia na sua mão, estava rodeada por uma sensação de uma tranquilidade suprema. Aproximou-se ainda mais e teve a leve impressão de ver em Greeny um sorriso. A magia do momento transportou os seus pequenos e doces lábios para a boca do seu sapinho especial. Deixou-se levar e num sopro só sentiu-se envolvida por um abraço reconfortante. Continuou de olhos fechados… Teria chegado o príncipe? Será que era desta que conseguiria fugir para outro mundo num cavalo branco?



Uma Estória (3)

A história n.º 3 é da minha (Fá menor) autoria e já tinha sido atempadamente publicada neste mesmo blogue sob o título: 
Saber Esperar.