20/10/2020

7Guardando na prateleira histórias dignas de registo (VII)

  Um desafio em Julho de 2008, sobre uma pintura publicada aqui neste mural da minha C(l)ave - Partilha de uma muito querida (4), um acrílico sobre tela da minha Autora da Capa de Memória Alada -, resultou num conjunto de histórias que só me lembrei passados quase 12 anos de recolher para memória, e que são dignas de serem lidas por quem se quiser dar a esse trabalho. 

Segue-se a parte VII e última:

No colégio interno... Por Cátia do Ticho

A Margarida era uma jovem adolescente, aborrecente [1] como muitas outras jovens da sua idade. Pensava essencialmente em três coisas na vida: na moda; em saídas à noite até às tantas da noite; e em rapazes, como seria de esperar. Apesar do seu estado de rebeldia e de supérfluo permanente, até tinha a noção de que um dia as coisas iriam mudar, e que faria tudo para trocar aqueles rapazes giros com quem já saíra, por um belo príncipe encantado. Enquanto isso não acontecia, e ela sabia que o mais provável era não acontecer, porque príncipes encantados só em estórias de encantar, em que envolvendo sempre um sapo ou um cavalo branco, e na verdade nenhum dos dois a agradavam, tinha era que viver a vida, e aproveitar enquanto era jovem e, principalmente, gira!!

De tão ocupada que andava com os três assuntos tão importantes, e que digamos a verdade, ocupavam-lhe o dia-a-dia, não sobrava tempo para outras actividades, como ir a escola nem tão pouco estudar... Que coisa mais normal e sem graça para se fazer nas tardes de inverno enquanto chovia e só apetecia estar no calor de um centro comercial, ou nas tardes de primavera, que só apetecia andar por aí com os amigos e com os... mais que amigos!

Os pais da Margarida, ambos com uma carreira para construir e pela qual lutar, não tinham muito tempo para se preocupar com essas andanças. Se ela queria comprar roupa que comprasse, era porque precisava e não podia fazer má figura; se queria sair, fazia-lhe bem, também precisava de distrair, e estava na idade para isso! Uma coisa não admitiam: é que a filha não fosse um modelo em tudo, desde roupas, a amigos, namorados e em notas! Sim, porque filha de dois profissionais como eles, não podia ser menos do que uma futura excelente profissional!

Mas a verdade é que parecia que o mundo estava mesmo feito para os contrariar, e no final de um ano, semelhante a tantos outros, lá chegaram as más notícias: a Margarida tinha chumbado! Como era possível?! O mundo parou, não haviam negócios, nem reuniões que fossem mais importantes que a fachada que era necessária manter... Após varias discussões, após culpas atiradas como bola de ping-pong entre pai e mãe, e entre pais e filha, era hora de tomar uma decisão radical e definitiva para aquela situação: colégio interno! Estava decidido e não havia volta a dar...

Passou-se o Verão e no final havia já um destino traçado e uma viagem marcada. Quando chegou tudo parecia cinzento demais para ser real. Uma coisa ela podia ter a certeza: seria a mais chique de todos eles e o lugar de rainha no baile de primavera seria seu! Isso, se houvesse baile, claro... As semanas foram passando e estava a ser tudo muito pior do que ela podia sequer imaginar: os horários, as regras, as aulas sequíssimas, os horários para estudar (como é que podia haver tanta coisa para estudar?!), e o pior que tudo, não havia a mínima distracção do seu agrado, nada que não envolvesse jogos físicos, ou aborrecidos jogos de estratégia; rezar, ou ler na biblioteca, e por aí adiante. Mas como era possível que alguém vivesse contente assim?!

Num dos dias que decidiu ceder à biblioteca encontrou algo que não esperava, um grupo de jovens que, de alguma forma, se destacava de todos os outros que permaneciam naquele espaço... Parecia até que escondiam alguma coisa! Mas ali, o que poderia ser? Era um grupo constituído por uma rapariga e três rapazes, e o seu aspecto era também diferente dos outros "cromos" que por ali andavam, tinham um ar mais... saudável! Aquela ideia fascinou-a, era a primeira vez que via algo que lhe prendia a atenção e que até lembrava outros tempos. Estes mistérios eram o que mais se assemelhava a algo proibido por ali. Tinha que arranjar uma forma de se aproximar, de descobrir... e se possível, integrar-se! Não sabia o que se passava, mas fosse o que fosse, ela estava determinada.

Durante uma semana as visitas à biblioteca eram regulares, e por coincidência (ou talvez não) à mesma hora que o tal grupo estava também por lá. Seguia com o olhar cada elemento daquele grupo e os seus gestos. Aparentemente só estudavam, mas investigavam livros que ela nunca tinha ouvido falar, e o olhar... aqueles olhares cúmplices não eram normais, não eram simples olhares de quem estuda historia ou matemática... Havia algo ali, isso ela tinha cada vez mais a certeza.

Um dia há hora de almoço (num colégio, tudo se passa à hora de almoço, não é?), enquanto a Margarida andava supostamente à procura de um lugar vazio numa das mesas daquele refeitório imenso e poderoso, veio "acidentalmente" parar à mesa do tal grupo. Pediu para se sentar. Pararam os quatro a olhar para ela, mas depois, e mudando o assunto, acenaram que sim. Durante todo o tempo da refeição, não houve mais do que a troca de uma ou duas palavras, de resto era quase como falar... do tempo.

Margarida sabia que tinha que ter cuidado nas investidas, e que tinha que ter paciência, aprendeu isso com muitas das conquistas "do tal" rapaz (mas que ia mudando todos os meses). Durante quase uma semana era assim, todas as refeições vinha para a mesa deles, e já nem era preciso pedir licença e eles já começavam a não disfarçar o “tal” assunto. Um dia, e sem ela estar a espera deixaram-lhe um recado no tabuleiro do refeitório: "Às 17 horas na biblioteca, na mesa do canto." Sentiu uma excitação a percorrer-lhe as veias, afinal estava certa, afinal havia mesmo alguma coisa!

À hora marcada lá estava ela, como combinado. Passaram 15 minutos e ninguém aparecia. Será que estavam a gozar com ela?! Decidiu esperar. Passou uma hora, e continuava sozinha. Como é que ela foi enganada assim tão facilmente? Apetecia-lhe insultar-se, como tinha sido ingénua! Saiu da biblioteca a mil à hora apetecendo-lhe levar tudo e todos à frente, que nem o Katrina.

“Espantoso!”, ouviu a trás de si, “Uma hora… nada mau!”. Virou-se com ar furioso, e lá viu os quatro a gozarem da sua cara. Aproximou-se deles em fúria… “Calma, era só para testar a tua paciência, e saber até que ponto é que querias integrar-te no grupo”, disse a única rapariga. Anda connosco… Margarida ficou surpresa, mas achou que até fazia algum sentido… Seguiu-os em silêncio. Percorreram alguns corredores por onde ela nunca tinha andado, e depois de tanto virar à direita e à esquerda, sentia-se completamente perdida. Finalmente pararam à frente de uma porta, abriram-na e entraram sem acender uma única luz. Fecharam a porta, e por momentos teve algum medo, aquele breu de um sítio que não conhecia não a deixava confortável. De repente acenderam três pequenas velas num castiçal, tipo século XVIII. Tentou ambientar-se àquela luz e tentar analisar o espaço… Era uma sala, com as dimensões de um escritório, com estantes até ao tecto em duas paredes, e com as outras duas livres de qualquer objecto. No meio, uma simples mesa com cinco cadeiras em volta (Cinco?!).

Levaram o castiçal para o meio da mesa, e um dos rapazes, o que parecia que tinha mais influência embora fosse o mais pequeno, levantou-se e foi buscar um livro. Colocou-o sobre a mesa, mas ainda tão distante dela que nem lhe conseguia reconhecer a cor. “Já ouviste falar no oculto? Em magia? Em feitiçaria? Aqui é o assunto… Se quiseres saber um pouco mais, ficas, senão sais e esqueces que alguma vez estiveste neste sítio.”

Os seus olhos estavam ainda a tentar ambientar-se ao espaço, e tentar perceber o que se estava a falar ali… Mas não deu asas a dúvidas e acenou logo com a cabeça, dando sinal que queria continuar. Começaram então a explicar-lhe que investigam velhos livros que tinham trazido da biblioteca sobre feitiçaria, e que têm aprendido alguns feitiços desde então. A Margarida não acreditava no que acabava de ouvir. Aprender feitiços? A partir de livros antigos e poeirentos?! Nada como ver para crer, pensou ela… No seu íntimo achava que os outros tinham era andado a ler, durante demasiadas horas, os livros de um tal Harry Potter que, das estórias, só conhecia de ouvir falar… Havia também essa mania entre os colegas da antiga escola, mas ela nunca tinha “perdido tempo com isso”… Será que agora estava no meio de uma dessas estórias? Pagava para ver no que ia dar…

Percebendo o que ela pensava, o Duarte, o tal rapaz que deveria ser o chefe do grupo, fez um pequeno gesto, seguidos de umas palavras, e o livro pousado sobre a mesa abriu-se sem que ele lhe tocasse! Ela não queria acreditar no que via… Será que tinha sido mesmo assim?!, perguntava-se em silêncio. Apercebendo-se das dúvidas, ele virou-se para uma estante, fez outro gesto, outros dizeres e… lá veio um livro a voar da prateleira! Ok… para ela isso chegava! Depois de rendida a ideia, teve que fazer um juramento que não iria contar nada do que visse ou do que se passasse ali, e que nunca iria usar para maus fins nada do que aprendesse ali … Posto isto, fecharam os livros, apagaram as velas e saíram em silêncio.

Naquela noite ela não conseguiu dormir, a tentar perceber o que se tinha passado e tomar consciência do que iria aprender nos próximos tempo. Será que também ia conseguir fazer coisas como o Duarte, o tal rapaz?

Foram-se passando várias semanas, as aulas iam correndo, sequíssimas como sempre. Margarida estava a adaptar-se aos poucos ao sistema, aos colegas, aos novos professores … Menos a francês! A professora de francês era uma senhora tão velha que ela desconfiava que já tinha mais que 100 anos, e até conseguia ser mais insuportável que a antiga directora da antiga escola que todos os dias lhe dava lições de moral… ou pior, mais chata que mil directoras da antiga escola, coisa que ela antes pensava impossível. Agora eram os trabalhos diários com mais de 50 páginas, as leituras de textos que tinham tamanho de autênticos romances, a pronúncia (que raio de pronúncia!), aqueles R’s ditos como quem diz: o rato roeu a rolha da garrafa de rum do rei da Rússia, e os verbos (quantos eram? Mil e trezentos? No mínimo!) [2].

Depois das aulas e de todas as actividades, a Margarida e os seus mais recentes quatro amigos, reuniam-se na tal sala, para a qual ela aprendeu o caminho, e onde estudavam vários truques, vários dizeres… Quase todos os dias, depois do estudo na sala, passavam pela biblioteca para tentarem encontrar respostas às dúvidas que iam surgindo nas várias secções… A Margarida estava claramente em desvantagem por estar a começar muito depois dos outros, eram os termos, os gestos, os significados... Sabia que se queria aprender, então tinha que estudar mais…

Estudou tanto que acabou por aprender mais depressa, e chegou até a descobrir alguns truques diferentes e a ensiná-los aos outros. Com o tempo, estava a ser até cada vez mais ousada no que estudava, e ia até tentando inventar pequenas coisas, acrescentar alguns pormenores… Como tudo na vida, é preciso prática, e essa ela estava a ganhá-la de dia para dia.

Ao fim de semana, alguns alunos iam para casa (a maioria!), mas a Margarida não, com quem passaria os fins-de-semana se os pais não largavam o trabalho? Ficava pela escola e ia investigando um pouco mais, e aperfeiçoando os seus truques (sim, porque já podia dizer que tinha os seus truques!).

Num desses fins-de-semana, ao dirigir-se para a pequena sala, cruzou-se com… podia ser o diabo, mas não, era mesmo “só” a professora de francês. Esta inquiriu-a sobre o que andava a fazer por ali, e se não devia estar a estudar um pouco mais de francês para melhorar a vergonha que era a sua leitura e a sua pronúncia…! Ela, respondeu algo à toa, querendo apenas livrar-se da mulher… “Ai se pudesse…”, pensava ela, não querendo sequer terminar o pensamento. Seguiu caminho entre corredores e portas. Entrou na sala já conhecida, acendeu as velas do castiçal, e sentou-se à mesa com o livro que tinha ali deixado no dia anterior…

De repente ouviu um barulho atrás de si e olhou rapidamente nessa direcção, era a bruxa, quer dizer, a professora de francês! Incrédula com o que via naquela sala, a velha professora, começou a tentar perceber o que se passava naquele espaço, mas sem deixar espaço para respostas, ou melhor, para desculpas, começou logo a partir para a discussão… Margarida estava com uma vontade imensa de lhe dizer umas quantas também, mas tentava controlar-se ao máximo. No fim, a professora, disse que ia fazer queixa ao director e que ia pedir para a suspender para ver se se deixava de coisas, de rebeldias. Nesse momento Margarida já não se importava muito com nada. Vendo que não estava a conseguir o que queria, a professora, continuava a sua ladainha sem parar… Aborrecida (e não de aborrecente agora) com tanta conversa, só queria fazer com que a velha senhora se calasse, mas não lhe parecia possível que isso acontecesse nos próximos 20 anos (no mínimo!). Fez um gesto, uns dizeres e transformou a professora num sapo! [3] “Será que assim já se cala?” pensava para com ela, com ar aborrecido… Sabia que não o devia ter feito, mas olhar para aquele sapo indefeso e pensar que era a pessoa que a andava a fazer a vida negra, tornou-se uma satisfação maior…

Voltando à consciência, e pensando no juramento que tinha feito no primeiro dia, pegou no sapo, levou-o até ao jardim e dizendo outras palavras fez com que o sapo voltasse à sua forma humana, mas garantindo que não se iria lembrar de nada do que ali se tinha passado. Mas… na verdade aproveitou e fez um pequeno feitiço de “simpatia”, só para que aquela mulher, com tanta idade mas com tão pouca sabedoria, aprendia que os alunos também mereciam um pouco de respeito, e que um sorriso por vezes não faz mal a ninguém.

Nota da Autora:

[1] – aborrecente que, como explicado noutra estória, é um estado da nossa vida, pela qual todos passamos em fase de crescimento e em que nos tornamos aborrecentes...
[2] - Espero que as professoras de francês não me venham processar depois disto, mas eu, o Francês e as professoras de francês não nos damos muito bem...

[3] - Não tentem fazer isto em casa, ou melhor, na escola...

Uma estória (18)

Por Lininha 

"E mais um dia. Mais um dia que não anda nem para traz nem para frente. Tudo igual: a mesma luz do sol ofuscante, a mesma forma de andar e mesma forma de respirar.

E eu entro, fecho a porta. Como mais nada me apetece fazer, refugio-me…

Dirigindo-me à uma outra porta interior livro-me de tudo que tenho nas costas, nas mãos e nos ouvidos, dou repouso ao meu mp3, que também só tem oportunidade para isso quando eu tenho possibilidade de me isolar num silêncio completo.

Entro então no quarto, que já não é meu, não é de ninguém se não o do meu sapinho…é o meu esconderijo, o meu descanso, do mundo e dos meus pensamentos.

Sempre na mesma posição e na mesma companhia do meu animal de estimação e do semi-escuro lugar, deixo-me inspirar e aliviar os meus olhos de todo o pesadelo que passam lá fora.

É o momento em que não tendo musica nos ouvidos posso reflectir, pensar e/ou imaginar uma vida que nunca foi nem seria a minha nem de ninguém, ou posso simplesmente pensar em nada de específico, porque os pensamentos surgem incontroladamente.

A vida é esquisita e mais esquisita se torna quando penso nela…mas penso...e quando penso no meu passado lembro-me do meu príncipe. Este é o lugar em que dou asas aos meus pensamentos e a minha fraca imaginação. Eu sempre me imaginei uma princesa, não é por infantilidade, mas por dar mais graça aos meus pensamentos. Gosto de contos de fadas, no entanto, sempre me emocionei mais com histórias que não acabam propriamente com ‘e viveram felizes para sempre’.

Nem tudo tem que acabar bem e/ou sempre da mesma forma. E eu já tive um príncipe, tive no passado, no presente já não tenho...mas isso não me incomoda, até porque a minha história não acabou nem eu tento adivinhar o fim dela. Sou, como me imagino, uma princesa sem príncipe. Estou sozinha, mas nunca me considero como tal...tenho sempre o sorriso e a companhia do meu sapinho que se não fosse ele não precisaria sequer acender o meu velho castiçal, porque ele nunca se deu bem com o escuro e a electricidade aqui já há muito que deixou de passar... Um sítio abandonado, mas que se torna tão acolhedor para mim...

Voltando as minhas lembranças: sou portanto uma princesa que outrora viveu apaixonada e já se sentiu correspondida. A minha história até podia ser escrita como um conto de fadas vulgar, mas como eu não gosto de coisas vulgares, a minha história tomou um rumo diferente.. Continuo a ser princesa, o meu príncipe é que deixou de ser meu. Mudou. Não fui eu, mas sim ele, e eu não mudo de príncipes como quem muda de meias. Deixei simplesmente de o ter. Custou. Outrora ele era o meu único pensamento. Já passou. A pessoa que eu amei continua a viver mas o meu príncipe morreu.

Agora nada mais resta se não recordações...

O meu lugar favorito onde o tempo não passa e eu vivo descansada, esse é o meu mundo e a música é o meu segundo mundo, o mundo que é quando eu ponho os meus pés fora deste...

Evito o olhar do mundo comum porque me cega os meus olhos...é o sol, mas também são os actos humanos que por mim são incompreendidos.

A minha história não acabou porque o meu mundo é eterno..."

publicada aqui.
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Fim

06/10/2020

5Guardando na prateleira histórias dignas de registo (V)

 Um desafio em Julho de 2008, sobre uma pintura publicada aqui neste mural da minha C(l)ave - Partilha de uma muito querida (4), um acrílico sobre tela da minha Autora da Capa de Memória Alada -, resultou num conjunto de histórias que só me lembrei passados quase 12 anos de recolher para memória, e que são dignas de serem lidas por quem se quiser dar a esse trabalho. 

Segue-se a parte V:

Uma Estória (13) Por bono_poetry do tempocronométrico

Meu amigo de Emanon,

Envio-te por este meio de alta-tecnologia saudações do planeta terra. Continua quente este lado do planeta onde vivo,tenho sérias desconfianças que estamos no pico do verão. Que planeta estranho este é ...inverno! Bem, continuo a gostar mais de Emanon, é mais ameno e menos poluído. A cidade tem um nome estranho, Lisboa, está bonita mas as tágides andam um pouco malucas com o verão...o povo diz que é a época da reprodução... quando souber o que quer dizer prometo explicar-te.o pessoal daqui é estranho à brava, agora andam vestidos com umas calças que unem na zona dos joelhosexperimentei e acredita,aquilo é uma arma letal! ainda vão acabar com o planeta se continuam a usar aquelas calças mas há algo bastante curioso neste planeta...as crianças,umas pessoas pequeninas muto mais inteligentes que os adultos são muito parecidos com os Emanonianos. As pessoas que estão de férias parecem sair de um grande forno e as que estão a trabalhar estão na mudança de pelenão percebo a lógica nem uma ligação... tenho feito umas anotações sobre esta povoação,passo a citar: 1. as pessoas da terra vão para um areal enorme e poem creme(acho que é para agarrar melhor a areia) 2. bebem um liquido dourado com gás(nem me atrevi a provar)3.as mulheres usam uma especie de plataforma nos pés (se é para irem para o nosso planeta têm de se esforçar mais na altura) 4. tenho saudades tuas (ups este apontamento é meu) como podes ver... gente estranha... não há nada como Emanon. ja agora envio-te uma tela comigo sentado na perna de um desses estranhos seres...

beijoooooo emanoniano entre os teus belos orificios reprodutores... hehehehe!!!!



Lá longe, no meia da terra do nunca, vivia Morgana, uma princesa deveras rebelde... Ela sonhava viajar para fora do seu reino, conhecer montes e vales, abismos e penhascos que nunca antes tinha visto, apenas os havia sonhado. Sonhava com tudo isso, montada no seu cavalo branco de crina cinzenta, a cortar ventos e tempestades ou simplesmente em belos dias de sol em que tudo era luz, assim como ela gostava.

Ela era muito meiga e de rosto muito iluminado, e o seu cabelo negro dava-lhe ar de guerreira. Uma guerreira bem menina, uma guerreira bem mulher, com tudo o que isso implica!

Certo dia, após o sol se pôr, bem no recanto mais escondido do palácio, Morgana encontrou-se com o seu mais fiel amigo, o sapo Artur. Este belo amigo, de pele bem escorregadia era o seu mais fiel companheiro, que a acompanhava nas mais diversas aventuras. Desde chatear a rainha mãe com as suas loucuras de menina rebelde, a dar cabo do juízo ao trovador que que insistia em cantar todas as cantigas de maldizer que ela não suportava bem na hora do jantar (quando não era logo ao pequeno almoço!). [Artur era quem a inspirava, apesar de todo aquele verde esquisito e daqueles olhos e... daquela pele estranha. Era sempre sincero no que dizia e quando Morgana o questionava com alguma dúvida ele tinha sempre uma resposta... uma resposta sempre sábia. Artur tinha sofrido um feitiço, uma vingança de alguém que ansiava pelo seu poder, alguém com um coração muito negro e maldoso e que apenas queria poder ( e foi só isso que conseguiu...). Alguém considerado fiel que o tramou e que conseguiu transformá-lo em algo... verde...Conheceu-o num dia bem chuvoso, em que Morgana estava revoltada com a sua vida, decidiu cavalgar no seu cavalo e ir até ao lago. Foi lá que encontrou Artur e com ele travou uma longa conversa, em que descobriram que tanto tinham em comum, apesar de toda a diferença física. Ficaram amigos e ele decidiu que não se importaria de morar no repuxo do castelo apenas para a ver, para se sentir feliz e acompanhado.. já que lhe tinham tirado o que de mais belo tinha...] Bem no escuro da biblioteca, onde apenas as velas ardiam, dando corpo aqueles doisa corpos tão diferentes, conversaram sem fim sobre os sitios onde Morgana desejava ir, e depois de Artur lhe contar verdadeiramente o que lhe tinha acontecido, ela não desistiu e porcurou até ao ultimo livro, um que le indicasse como quebrar toda esta maldade. Instalado na prateleira mais alta e carregado de pó, "Como quebrar Feitiços em 3 tempos!" estava como se ninguém há séculos tocasse nele. Morgana pegou e leu em letras bem grandes: Os feitiços só quebrarão quando se tem bom coração. Morgana acreditou muito, muito e quando pousou Artur em sua mão e lhe afagou a pele escorregadia, ouviu-se um som de estrelas a cair, como se todas as estrelas do céu se compenetrassem no seu pensamento. Aconteceu... Artur, transforou-se num homem, do qual ela tão bem conhecia. Artur, o grande Rei Artur... seu pai, do qual ela tanto amava, e que julgava que à muito tivesse morrido.
Abraçaram-se, como só pai e filha sabem fazer, num abraço tão apertado e tão deles que toda a terra parou... apenas para os sentir.



Uma Estória (15) Por Cris do Procurar-se

O melhor abraço do mundo...

- Dá-me um beijo, que vou virar o teu príncipe! - suplicava o sapo.
- Qual príncipe, qual carapuça! Eu quero é que me deixem em paz e sossego! Não gosto dos teus olhos! Não são doces!
- Vais arrepender-te! - ameaçava o sapo.
- Se fosses verdadeiramente o meu príncipe, não me tratavas assim. Tratavas-me com carinho e ternura, mesmo com a minha rejeição. Na volta, és daqueles que gosta de bater na mulher. És um triste!
- Bolas, miúda, vais ficar sozinha para sempre! - continuou o sapo com raiva.
- Antes só, que mal acompanhada! Não te esqueças que és apenas um sapo, posso sempre atirar-te pela janela fora...
- Atreve-te! - insinuou o sapo.
- Olha que é já agora! - levantou-se, pegou no sapo, abriu a janela e jogou-o do 15.º andar... Sentiu-se aliviada. Sonhava com aquela colega de turma que lhe dera um abraço no outro dia. O melhor abraço do mundo...


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06/03/2020

4Guardando na prateleira histórias dignas de registo (IV)

Um desafio em Julho de 2008, sobre uma pintura publicada aqui neste mural da minha C(l)ave - Partilha de uma muito querida (4), um acrílico sobre tela da minha Autora da Capa de Memória Alada -, resultou num conjunto de histórias que só me lembrei passados quase 12 anos de recolher para memória, e que são dignas de serem lidas por quem se quiser dar a esse trabalho. 

Segue-se  a  4ª parte:

Uma Estória (10) Por Metódica do Método

A noite já vai alta, mas para ela pouca diferença faz, está acostumada a deitar-se tarde, mas esta noite não tem intenção de ir dormir.
Esta noite acendeu três velas no velho castiçal de família, tinha um carinho especial por ele. Era daquelas relíquias que vão passando de mãe para filha. Gostava de pensar que aquele castiçal tinha séculos de existência, que tinha pertencido a parentes importantes, talvez até da nobreza, na altura em que Portugal ainda era uma monarquia.
Nunca percebeu muito bem porquê, mas gostava de ver as velas arderem naquele velho castiçal cheio de história, gostava de ver as chamas dançarem ao som de uma melodia muda. Lembrava-se de que em criança passava horas a olhar para as velas, na noite de Natal, quando a sua mãe as acendia no castiçal.
Hoje não é natal, mas ela também já não é criança e a mãe também já não é viva, faleceu à dois anos num horrível desastre de automóvel.
Estamos no inicio de Janeiro e um frio intenso veste as noites, mas ela não sentia frio, não sentia nada. Sentada no chão olhando as chamas, a sua mente era assaltada por todas as suas memórias, por todos os seus fantasmas, por todos os seus medos e ela via tudo isto desfilar à sua frente como se ela própria fosse alguém de fora, como se estivesse a assistir um filme num cinema.
Não consegue evitar, ela precisa destes momentos, são momentos só dela em que pode meditar à vontade, rever toda a sua vida, todos os seus sentimentos.
Acompanhada pelo seu velho castiçal entra no mais íntimo do seu ser, nas profundezas da sua existência, enquanto lá fora, todo o Universo dorme tranquilamente.



Jurei que ficaria assim... sentada a um canto até ao fim da vida! À espera. Cada dia que passe, cada noite que caia, cada raio de sol, tempestade, trovoada, será um momento nos muitos momentos de espera da minha vida. Porque a vida não depende sempre e só de nós, porque desejar que isto ou aquilo aconteça não é garantia de nada, porque quis ser feliz e não fui... fico, pois, aqui à espera... à espera... de braços cruzados com a vida, de costas voltadas ao destino, de olhos fechados ao mundo... só eu, só eu no silêncio, só eu comigo... sozinha... por momentos julgo ver aquele sapo que brincava comigo quando a vida ainda não me desiludia, mas esfrego os olhos e regresso à realidade... está escuro, está frio... continuo à espera e nada acontece, porque a vida parou para mim, continua a correr lá fora... sinto-me a ficar para trás, perdida num vazio... falta-me o ar... uma janela... num impulso corro para ela, abro-a e sinto o ar na cara, o vento frio nos cabelos, respiro fundo e deixo a vida entrar dentro de mim... por momentos sinto que pude decidir entre ficar no canto, inerte, e voltar a viver...


Uma Estória (12) Por Sara Cabral

A lenda do Amor

Catarina, uma jovem bonita, inteligente, acostumada aos bons luxos da vida, estava habituada a ter muitos rapazes de volta dela. Ela era a mais popular!Um dia, tudo mudou, ela nunca chegou a perceber porquê, mas deixou de gostar que os rapazes andassem sempre de volta dela, e precipitadamente começou a ser um pouco menos simpática e acabou por afastar todos os rapazes da sua vida.Mais tarde, acabou por se arrepender e quando queria arranjar o amor da sua vida, estava mais desesperada que nunca e cada vez mais fechava-se. Leu num livro que segundo uma lenda, para arranjar o amor da vida dela teria de arranjar um candelabro com três velas e um “amigo”.Catarina, sem ter amigos decidiu levar o primeiro animal que encontrou: um sapo. À meia-noite, ajoelhou-se a um canto do seu vazio quarto, com o seu candelabro e as três velas acesas e o sapo em cima do seu colo.Nada mais se sabe sobre esta história, mas pensa-se que o sapo se transformou num príncipe. Há quem diga que nada aconteceu e que Catarina sofreu até ao fim da sua vida. Fica agora ao critério de cada um terminar a minha história...

(postado por empréstimo no Método)

Uma versão de continuação por:

Marta 02/09/08, 08:48
Era meia noite em ponto, quando os seus lábios tocaram o sapo. De imediato deu-se um puffft, e uma fumarada imensa invadiu o quarto. Catarina, tossiu por cinco minutos, antes de conseguir vislumbrar a bela rapariga em pé, ao lado da janela.
Uns, dizem que foram felizes para sempre, outros dizem que Catarina sofreu até ao fim da sua vida, vitima do preconceito alheio!
Outra versão de continuação por:

Costuma dizer-se que se não os podes vencer, junta-te a eles.
E foi o que acabaria por acontecer. Catarina, farta de tentar procurar o amor da sua vida entre aqueles sapos todos sem encontrar aquele que quisesse verdadeiramente transformar-se em príncipe, acabou por transformar-se, ela própria, em sapo!
Ainda outra versão, mais recente, de continuação por:

Pois, o sapo transformou-se num príncipe intolerável, autoritário, um jovem sem escrúpulos, manipulador e vingativo. E aprisionou Catarina em casa. Como a rapariga tentou escapar às garras daquele ser monstruoso, ele prometeu isola-la de todos os olhares, Catarina aprenderia a amá-lo, só a ele, apenas a ele. E decidiu que habitariam uma mansão , solitária na floresta, ladeada de arvoredo. O príncipe belo, tornou-se cada vez mais escuro e sombrio com o passar dos anos. Catarina, a jovem formosa, desencantada e desiludida, procurou conforto num velho piano, foi ali, que tocou as mais extraordinárias composições musicais. Gatafunhadas em papéis sujos e velhos. Como o príncipe rasgava e incendiava-os irado, ela aprendeu a defender-se e a escondê -los em lugares impensáveis. Depois da sua morte, o casarão foi descoberto e explorado e finalmente a suas obras musicais saíram para os salões da alta nobreza e Catarina, nome pronunciado de boca em boca, nunca mais seria esquecida. Do malvado príncipe, nada, nem referências, nem como terá sido o seu fim. Como se jamais tivesse existido.
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28/02/2020

3Guardando na prateleira histórias dignas de registo (III)

  Um desafio em Julho de 2008, sobre uma pintura publicada aqui neste mural da minha C(l)ave - Partilha de uma muito querida (4), um acrílico sobre tela da minha Autora da Capa de Memória Alada -, resultou num conjunto de histórias que só me lembrei passados quase 12 anos de recolher para memória, e que são dignas de serem lidas por quem se quiser dar a esse trabalho. 

Segue-se a parte III:

Uma Estória (7)

Por Joaquim do Que é a Verdade?

Sapo meu, sapo meu,
Quem é mais linda do que eu?
Sou eu,
Responde o sapo,
Sou eu!
Como é isso possível,
Sapo meu?
Como podes ser tu,
Mais lindo do que eu,
Sapo meu?
Sabes menina linda,
Não me conheces como eu sou,
Quem sou e o que posso fazer!
Quem te disse a ti
Que não sou um príncipe encantado,
Uma fada disfarçada,
Ou a mais linda das estrelas?
Porque te vejo,
Sapo meu,
E diante da tua "feiura"
Eu sei que sou bem mais linda,
Sapo meu?
Então aprende,
Menina linda,
Que nem tudo o que reluz,
É ouro,
E que quem vê caras,
Não vê corações.
Ia dar-te todo o meu reino
Ia fazer-te princesa,
Mas como só pensas em ti,
Nem quiseste saber de mim,
Fica a olhar-te ao espelho,
Por toda a eternidade,
Até ficares velha e feia,
Que eu volto
Para donde vim…



Is this a lesson?... 
Por John do Smooth e Sofia do Sofia's Word
(parceria para dar resposta a este desafio)

The winter came soon, as expected, and eventually it knocked on the door... Showing that it had no time to lose, it undressed on the whole all the trees that still had one or two leafs...
The winter, in its anger, spent the days tormenting the country side; tearing at old stone cottages, watching them weep crumbling pebbles and it kept the nights company with violent storms that shook all of California...

It was a day like many others... During the night the deafening storms didn't let me sleep... They broke every attempts… Even the old technique of counting sheep...

When sunrise I ran directed to the window, breathing a sigh of relief by knowing that all of that waiting had just finished.

With the forefinger I started to write some small words on the window that was totally steamy.
I had emigrated to that state some months ago. Some people say that this act was just a way to get away from my responsibilities… other ones say that it was simply to call the attention of the ones who were around me… Details aside, the truth is that the homesickness was being gradually felt inside, and the need of hearing that unique friend's voice was already being felt, too.

Maybe, to see a “Good Morning” outlined on the window of my small and modest bedroom would comfort me a little bit, even knowing that it was drawn by myself…
At the end of stare the word on the steamy window for some minutes, the curiosity to know what was in the other side of the window, made me put my hand over my "good morning" making it slowly fade away...

I peer though the misted glass at the outside. The snow was smooth over the landscape, seeming more like a way of seeing the world that actually something. I felt sorry for the trees which were tapped outside looking in at me, fighting against the cold. I hate to think of being out there, fighting my way through the snow, ice cold winds slapping me in the face, my feet cruching through the snow, my head down…

A big part of my days were shared with two homeless I met when I arrived at San Francisco International Airport. Two splendid people, I must say… They helped me adapting to that new city, so different of mine, showing always being ready to help with whatever I needed.

Ben and Matthew were two young Californian guys, natives of San Francisco. I’ve never understood what had happened with them to live in that way… They simply answer me that it was a subject of the past and they didn’t want to return there again… They added that they liked the starry sky and barely they would abandon it for one night… Both of them had an extraordinary vision of the life, a wonderful believe, a sincerity like I’ve never seen before... I felt myself safe in the presence of those two star lovers…

Although I saw on them two splendid and unique people all over the world, the society in general, didn’t see or feel the same thing…

Both Ben and Matthew didn’t have a very good reputation in that city… But they were very famous through it…By the simple movement executed by themselves, various eyes observed them… Glances that expressed distrust, fear,… They were judge and discriminated all the time only because they dressed jeans full of holes and their roof was the sky…

On that day… On that cold one… Ben and Matthew challenged me to stay in their “house” that night… I thought about that and the idea seemed a bit crazy, but exciting at the same time… So I decided to accept the invitation…

The night was cold and clear, I wrapped myself tightly in a coarse woolen blanket. We spelt the nights huddled together in a small place surrounded by cardboard boxes. It was dark and damp, but I felt safe. I looked up at the sky, it was pin pricked with stars. I sighed, and shut my eyes trying to get to sleep.

At the dawn of the day, the quick steps of someone woke me up… Wet by the rain and with cold inside, I sat on the floor and I looked around to observe what was happening.

It was a girl… I caught sight of her, running and saying some incomprehensible words between some drips and drabs, in the end of the street. The foggy and the distance didn’t let me see her face, but that wasn’t very important… I haven’t met many people in the city, yet. I was so sure that I wouldn’t know her if I saw her face...

However, to see a girl down, touched me inside… but what could I do?? I was just a trouble maker, always creating problems wherever I went… How could I help without creating more trouble?

Anyway, my instinct made me to get up and walk through the street accompanied by the tears of the sky which seemed to empathize with what the girl was feeling. Both in a perfect harmony...

Following the girl I ran through the fields, I climbed the mountain, until I didn’t see her anymore… I wouldn’t give up… To do all of that way for nothing wasn’t near of my options at all… I go on walking, looking for something that could give me a lead to find the girl.

Eventually, I got a glimpse of a house… It was the biggest and the oldest house I’ve ever seen. It seemed like a castle… There was a big space around it, where I guess that have existed a beautiful garden so many years ago…

While I observed the old mansion, depressed shrieks of a female voice came from the inside of the house…

Fear… Adrenaline rising… I only wanted to get out of that monstrous place… To run away to somewhere I could feel safe… And without thinking, I started to run back to the city… Shots were heard… Did someone hear my steps and want to catch me? The more I heard… The more I ran…

Finally I arrived to the garden… To the “house” where I stayed that night… There were my two star lovers… The only people I needed in that moment… They were gathed around me, asking questions I think, although even though they were so close and voices so persistence, I heard nothing, I was too busy replaying what had just happened in my mind. I sat there, expressionless. I was so confused, I felt so bad, so cowardly… “How was the girl at the moment? Dead?... Maybe…” I couldn’t think of anything else… This subject alone was making a terrible storm inside of myself... I should have done something, instead of running away… One more time, I acted as that bad, cruel human being, only thinking about myself and not caring about anything else around me…

Ben and Matthew where more and more restless with my silence…
Ben looked at me,
"You're not talking, what's wrong?" his deep smooth voice glided through the air, I found it comforting, however I said nothing. Matthew leant forward,
"You can tell us, you know." I looked into his eyes, his voice was lighter, almost bird like and did not have the soothing qualities of Bens, nevertheless it made me feel just as welcome. I slowly began to tell them...

Ben and Matthew got so surprised. They have already heard so many stories about crimes there, but none of them included a strange house with the description I did.
"Do you think we should go to the police" I asked Ben.
Ben looked troubled and rubbed his brow. His vision drifted to the floor for a moment, his face relaxed in absent minded thought. He turned back to me.
"No," he said, "the police ignore such reports, they think they are merely ghost stories."
“We can do it on our own… We can go there with you again if you feel better with that…” said Matthew agreeing with Ben.
“No! I don’t want... I just want to rest a bit... May I stay with you both again this night?” I answered stammering and expressing fear in my eyes.

Matthew nodded and smiled at me,
"Good idea, sure you can stay", however Ben was looking restless, his thoughts on other things, "sure she can stay, right Ben?" Ben was forced back into reality,
"Yes, yes," he said hurriedly, "yes of course."

As combined, I passed the night with them and I fell asleep observing the stars in the sky and thinking if the girl I listened screaming, still had the opportunity to do such a good thing…

The wind battered the street around me. It roared into my dreams and forced me awake. I lay on my side, starting at the frayed cotton in my blanket, hoping that soon I would be able to sleep, my mind wondering through events that have been, might happen or may have happened. I heard the light patter of rain start tapping a dance on the roof. I rolled on to my other side. I watched the dark out line of Matthew slowly rise and fall as he slept. I notice he spelt sound even though the wind’s noise shattered any of my feeble attempts to sleep. I wondered if Ben was asleep, I turned and looked for him. The sheets where he had been were ruffled, he was gone. My heart started beating faster, where was he, where had he gone, the night was so dangerous. I got up and went across to Matthew. I shook him.

“Matthew, Mathew!” I said urgently, “Wake up please, Ben’s gone, he’s gone, he must be out, Matthew wake up please.” he rolled over, suddenly awake.
“Gone?” he asked seriously.
“Yes gone” I stammered. Matthew rubbed his ear in thought.
“Where?”
“I don’t know, I just looked and he was gone” Matthew stood up and walked outside quickly, he stood, the rain dusting him. He pointed to a patch of mud in the ground.
“Foot prints” he said seriously, “they lead to the mountain.” I followed them with my eyes, straining to see through the dark.
“We have to go find him” I said. Matthew looked at me and nodded, and began to walk towards the mountain. I followed, scared.

While we were walking I had the sensation that I’ve already followed someone on that way… It was the same way I followed the girl. I followed Matthew until we arrived to the mansion. My heart started to beat faster, and with fear in my eyes I looked at Matthew.
“Matthew, wait… This is the house where I was yesterday… where I listened to the screams… the shots…”
“But the foot prints are in that way… They can be the direction to Ben…” told Matthew.
“And if they aren’t?”
“I won’t ever abandonee Ben and he can be in need of my help, do you understand?”
Matthew turned to the house, walked through its gates and without answer to him, I followed his wish.

Following the foot prints around the house, we found a door half opened. Matthew looked inside and entered.
“Anybody home?” he shouted.
Nobody answered…

Looking to the floor I saw wet foot prints like the ones which brought us inside the house and we followed them. Upstairs we found Ben, looking through the lock of a door.
“Thank God! You’re safe Ben…” said happily Matthew hugging his friend.
“Shhhhhhhhhhhhh!” said quickly Ben.
Worried with the situation I asked Ben,
“What’s happening inside? Why are you looking through the lock?”
“See with your own eyes…” said Ben with a tune of surprise in his voice.

I looked through it… I couldn’t believe… So young… A sweet face, body of a model, a fashion style; sitting on her knees in the corner of that room, looking at something green in her lap, both lightened by a chandelier which supported three candles.

It was the girl I’d seen the day before. Her long dark hair didn’t mislead anybody. I noticed that her lips were moving…Swimming in curiosity, I leaned my ear to the door to try to understand what the girl was saying.

“Why does it have to be like that?” I listened repeatedly.
What did such a beautiful young girl do locked in a dark room, whispering strange things to a frog with a tune of sadness in her voice?
I’ll never know… The last thing I remember is a strange voice behind me shouting,
“SO… DO THESE THREE MOTHER FUCKERS THINK THAT THEY CAN GOSSIP ABOUT MY BUSINESSES WITHOUT ANY CONSEQUENCE? DIE SONS OF A BITCH! DIE!”

Now I am here, in a place that seems like a cave, writing some lines of my life… Accompany by the death body of Matthew and seeing Ben starving right there, sleeping on the ground and thinking about when will come his time to leave me alone in the ruins of this four walls without any ray of believe… Always running away of my problems… Always running away of my life… Finishing in a place where I can’t run away anymore… Is this a lesson?


Uma Estória (9)

Aborrecente(1)  Por Marta do Conto Aqui

Cheguei a casa por volta da 1. Eu sabia que o que te tinha prometido era outra coisa, mas não me digas que acreditaste quando fiz o meu ar angelical e te disse:
"Vou só a casa da Joana ver o quadro novo que ela está a pintar, venho antes das 11."
Se tu me entendesses eu escusava de te mentir, mas não, tu insistes em tratar-me como se eu fosse uma miúda. Não vês que eu tenho quase 16 anos?! Há até quem me dê já 17 ou 18. Agora que estou de férias tenho que aproveitar, além disso queria vestir as calças novas e o top. Fiquei mesmo gira.

Só tu é que não vês que os rapazes passam a vida atrás de mim e as raparigas também, ou isso, ou roem-se de inveja. Não percebes mesmo nada. Parece que paraste no tempo. Um tempo que deve ser o século XVIII ainda à luz de velas. És tão aborrecido. Os pais das minhas amigas são muito mais modernos que tu. Até tenho vergonha de dizer que és tão chato. Tenho e não digo. Era o que faltava, que soubessem que ficas à minha espera todas as vezes que eu saio para o sermão do costume e o castigo... Como se adiantasse. Eu fujo pela janela! Patético!
Tu estavas à minha espera, como eu previa.
"Isto é que são 11 horas? O que é que estiveste a fazer até esta hora?"
"Desculpa, mas distrai-me com a Joana e perdi a noção das horas." – desculpei-me. Acho que já não caís nesta, mas não custa tentar!
"Fartei-me de te ligar... tinhas o telemóvel desligado."
"Fiquei sem bateria..." – Lamentei-me.
Nem sei quanto durou o sermão sobre os perigos da noite, mas foi tanto, que deu para eu viajar no tempo. Encarnei uma princesa fashion, a ser entediada de morte. Tu não paravas:
"Crruac, crruac, crruac..."
E eu, a viver a estória da princesa aprisionada numa masmorra vazia, com o sapo repetitivo como guardião... como no quadro da Joana, que eu tinha visto no dia anterior, mas claro, eu sou muito mais gira!


(1) - [Nota da autora]: Aborrecente é o nome que dou a uma fase da vida pela qual todos passamos. Eu também fui um bocadinho aborrecente... um bocadinho grande.

27/02/2020

2Guardando na prateleira histórias dignas de registo (II)

 Um desafio em Julho de 2008, sobre uma pintura publicada aqui neste mural da minha C(l)ave - Partilha de uma muito querida (4), um acrílico sobre tela da minha Autora da Capa de Memória Alada -, resultou num conjunto de histórias que só me lembrei agora (passados quase 12 anos) de recolher para memória, e que são dignas de serem lidas por quem se quiser dar a esse trabalho. 

Segue-se  a  2ª parte:

Por Belisa do Estrela no Céu

Mas o que hei-de dizer
Olhando para ti meu amigo
Mas o que hei-de fazer
Para poder falar contigo

Vou imaginar que tu és
O meu príncipe encantado
Vou procurar de lés a lés
E também por todo o lado

Quero encontrar o meu amor
E ter alguém só para mim
Meu coração é um tambor
Pois sinto-o bater assim

Neste canto à luz da vela
Estou falando contigo
Será a noite mais bela
Tenho-te a ti como Amigo!



Por Su da Teia de Ariana

- Juro que não falo mais contigo!
-Não entendo...isto antigamente, não era bem assim. Nós é que corríamos atrás do sonho e das princesas perfeitas, do beijo libertador, e tentávamos assumir uma outra personalidade qualquer!! - disse o sapo, encolhendo os ombros, se realmente os tivesse.
- Não me interessa essa conversa de psicologia invertida. Já te disse que só vou continuar a falar contigo se me deixares dar-te um beijo! Até lá...bem que podes procurar outra pessoa que saiba conversas contigo!
- Sabes bem que isso é impossível. Hoje em dia tudo o que foge ao normal é olhado de lado, assim com uma certa indiferença...como se até nem existisse. Ou se tivesse passado. Os da tua espécie têm medo do pseudo-anormal! Na realidade, eu até poderia ser a tua consciência materializada, como um certo insecto que uma outra história atrás. Só não tenho é chapéu, asas e bengala!
- Na realidade, eu posso mesmo deixar de falar contigo...e fazer de conta que não te vejo. É muito fácil. - a menina continuava encolhida no seu canto, de braços cruzados, recusando-se a olhar para o sapo que tinha ao colo.
- Eu não posso ser o teu príncipe encantado. Isso eram só histórias...sabes lá o que é que acontecia quando elas terminavam após aquelas palavras: E Viveram Felizes Para Sempre!"...a rotina, a casa, os filhos...olha, a Cinderela acabou por se viciar em comprimidos para dormir porque o seu príncipe ressonava deamsiado alto e não a deixava dormir!! As coisas não são bem como eram contadas. Afinal, vives num mundo de fadas, ou quê?!
- Não vivo, mas gostaria. Gostaria de acreditar que as histórias têm sim finais felizes e que por detrás de cada um há sempre aquela alma perfeita que apenas precisa de umas arestas limadas...mas tens razão...não posso forçar o que não é real...
- Isso sim...estás a ver? Eu tenho valor pelo que sou...um amigo teu que fala contigo, para além deste aspecto. Não sou mais nada do que isto. Outros tempos foram...
- Desculpa ter insistido tanto. Preciso sempre d eter algo para me agarrar. Olha, vou buscar-te uma folhinha fresca de alface e já venho!

A menina levantou-se e fez uma festa amigável no dorso do seu amigo verdusco. Enquanto fecha a porta, o sapo transforma-se num belo príncipe:

- Bolas, do que me livrei!! Passei séculos tão sossegadinho como sapo quando veio a outra e deu-me um beijo para me chatear durante toda a vida. Agora que voltei a esta paz...não quero outra coisa! Tenham mas é cuidado com os beijos!!



Uma Estória (6)

Por zeroz do Apontamentes

Ana levantou-se com uma estranha impressão na perna. Coxeava e tinha um leve ardor. Não se lembrava da noite anterior nem de parte do seu passado. Como de costume foi para colégio. As freiras fizeram um comentário sobre a sua postura na aula: Longinqua, alienada, de mente afastada, quase de corpo ausente. Mais um dia terminou e voltou a casa, jantou no orfanato, e à noite saiu para o clube. As noites negras e que tanto adorava eram a sua única razão de existência, tudo o resto eram apêndices. Os encontros com Jaime, seu amante e mentor, foi o quem a integrou na seita. Os rituais fascinavam-na e cada vez mais dependia deles para entrar em transe e escapar por momentos da sua vida modesta e mesquinha. Chegou a casa às tantas, continuava a coxear, deitou-se com Jaime e adormeceu esgotada mas deleitada.

Quando acorda tem uma espécie de gelatina sobre a boca e os olhos, quase não os consegue abrir. No banho tenta retirar o visco que a cobre. No joelho uma força estranha, uma dormência, uma energia bizarra a cobre, um caldo antigo e primordial sobre a rótula. No médico: "um caso raro"; "é pra ser fotografada"; "não vamos lancetar a coisa"; "Esperemos a evolução!". É medicada com drogas especialmente para doentes crónicos e casos de maleitas hiperactivas. Volta para casa a flutuar. No dia seguinte estava imóvel e vegetal sobre a cama. Um sorriso nos lábios disformes que se decompunham, os olhos gelatinosos desfaziam-se, por ciam dum joelho um girino desenvolvia-se sobre a epiderme. Por dentro do corpo a espinal medula ligava-se à perna esquerda, a respiração não era feita pela traqueia, mas sim por orificios junto à coxa. os lábios colam-se a face implode aos poucos, o cérebro deixa de funcionar. O girino desenvolve-se agarrado ao corpo. Utiliza-o para se deslocar. Numa ultima tentativa os médicos acham o fenómeno bizarro mas esperam mais desenvolvimentos, e através de cirurgia plástica reconstituiem-lhe a cara. Apesar disso os electro-encefalogramas acusam morte cerebral, as ligações sinapticas cortadas, a ligação motora interrompida. Quem controla o corpo como uma marioneta é Jack, O Sapo. É assim que se chama, e chegou para ocupar o seu lugar na carteira de Ana.

Torna-se o melhor aluno, já ninguém estranha o sapo no corpo, apenas sentem que Jack se devia livrar daquela carcaça. Mas Jack sente-se bem, acaba o colégio com excelentes notas e forma-se em direito. Jaime mantém uma relação com Jack, assumem-na perante todos e abrem um escritório de Actividades Juridicas no centro da cidade. São felizes finalmente.


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26/02/2020

1Guardando na prateleira histórias dignas de registo (I)

 Um desafio em Julho de 2008, sobre uma pintura publicada aqui neste mural da minha C(l)ave - Partilha de uma muito querida (4),

um acrílico sobre tela da minha Autora da Capa de Memória Alada -
resultou num conjunto de histórias que só me lembrei passados quase 12 anos de recolher para memória, e que são dignas de serem lidas por quem se quiser dar a esse trabalho. 

Seguem-se (1ª parte):

Uma estória (1)

Esta é a minha estória - Por Ni do Branco Escuro  

Esta é a minha estória, neste canto que protege a minha vida… esconde segredos e alimenta sonhos. Acredito na felicidade como dom alcançável e é por isso que tenho estas velas… cuja luz me há-de manter sempre desperta para os subtis sinais da vida.
Ah… e tenho um sapo. Tem os meus olhos pela ternura e esperança com que o olho e assim chegará longe! E este é o meu retrato. Vêem? Sou linda…


Uma Estória (2)

Era uma vez… Por Patrícia do More Than Words

Esta é a história de uma menina órfã de dezoito anos, a quem a vida escolheu como sendo um membro de uma das famílias mais nobres e ilustres da cidade. Maria, de seu nome, prima pela sua grandiosa maturidade, evidenciando um doce e feminino toque que desnuda a sua idade ainda precoce.
Mãe de Maria morreu tinha ela apenas dois anos de idade. Sempre num meio rodeado de criadas e de motoristas, Maria foi aprendendo a viver segundo regras e rotinas que lhe iam sendo impostas.

O pai da menina, eloquente diplomata, sonha uma carreira invejável para a filha, a quem sempre satisfez todas as necessidades económicas e materiais. Carinho e afecto não é linguagem que conste no seu dicionário, aliás, Maria está muito longe de se sentir amada.
Cabelos negros e longos esvoaçam ao sabor da brisa quando passa, a sua silhueta definida pelas curvas bem acentuadas do seu corpo e as excelentes combinações de vestuário modelam-na numa jovem elegante e atraente.
Maria vive quase sem ambição, dado que não é carecida de luxos ou caprichos. Os seus pequenos sonhos são considerados impossíveis. Apaixonada pela natureza, deseja em segredo ser bióloga, algo que nem ousa pronunciar perante a postura inquebrável de seu pai, que insiste numa carreira política.
Apesar de tudo, é uma rapariga sonhadora que idealiza um príncipe encantado montado num cavalo branco que um dia chegará para a vir buscar e para a libertar da sua vidinha de prisioneira. É assim que passa horas e horas a fio num pequeno sótão de arrumações que constitui um local mais discreto à criadagem.
Sente-se bem ali, talvez por ser a única divisão da casa que menos se parece com um museu, em que tudo tem que estar no sítio certo à hora certa.
Maria tinha um pequeno sapo, Greeny. Era com ele que passava grande parte do seu tempo livre no resgatado sótão. Era ele o bom ouvinte dos seus desabafos, problemas e das histórias dos seus sonhos.
Um dia, contagiada pela magia dos sonhos e da fantasia, achou por bem, uma vez na vida, tentar seguir o rumo do seu sentir e deixar-se envolver pela irrealidade dos devaneios.

Olhou Greeny nos olhos, sentiu-o a aproximar e suavemente o colocou na palma da sua mão. Pensou: “Como é que um animal tão pequeno pode significar mais para mim do que a minha família ou até do que as minhas regalias?”. Foi então que se chegou mais de perto, descalçou as luvas para o sentir na plenitude. Fechou os olhos e só o sentia na sua mão, estava rodeada por uma sensação de uma tranquilidade suprema. Aproximou-se ainda mais e teve a leve impressão de ver em Greeny um sorriso. A magia do momento transportou os seus pequenos e doces lábios para a boca do seu sapinho especial. Deixou-se levar e num sopro só sentiu-se envolvida por um abraço reconfortante. Continuou de olhos fechados… Teria chegado o príncipe? Será que era desta que conseguiria fugir para outro mundo num cavalo branco?



Uma Estória (3)

A história n.º 3 é a que eu (Fá menor) escrevi, e já tinha sido atempadamente publicada neste mesmo blogue sob o título: 
Saber Esperar.