15/12/2024

Tal e qual eu


«Sim, eu isolo-me. Não porque não goste de pessoas, mas porque o mundo, com o seu ritmo frenético, esgota-me: o barulho incessante, as multidões apressadas, as conversas que, muitas vezes, não passam da superfície.

Isolo-me porque prefiro estar só do que rodeado de pessoas com quem não partilho a mesma vibração, o mesmo compasso da alma. Não é que os outros sejam menos interessantes ou dignos, nada disso. Somos apenas diferentes. As nossas sensibilidades movem-se em tempos distintos, e está tudo bem assim.

Com o passar dos anos, tornei-me mais consciente de quem sou, do meu caminho e do que não estou disposto[a] a carregar. Compreendi que a solidão, para mim, não é um vazio, mas uma presença — um encontro íntimo comigo mesmo, onde o silêncio é reconfortante como um abraço.

O mundo tem muito para oferecer, sim, mas também traz consigo ruídos que podem afastar-nos da nossa essência. A inveja, a competição desenfreada, as distrações constantes... É fácil perder o rumo. Por isso, escolho a minha bolha de paz, seja em casa, num canto tranquilo, ou no meio da natureza. É nesses espaços que reencontro a minha serenidade, onde o melhor de mim floresce no silêncio que escolho.

Não sou anti-social. Sou alguém que aprendeu a respeitar a sua sensibilidade e a necessidade de equilíbrio. Ouço, acolho, ajudo sempre que posso e com profundidade. Mas, depois, preciso de regressar ao meu refúgio interno, ao lugar onde me restauro.

E, se dedico o meu tempo a alguém, saiba que não é por solidão ou por necessidade de preencher vazios. É porque escolhi, de forma consciente e verdadeira, estar ali.»  
(Éden Cara)

30/11/2024

5Guardando na prateleira histórias dignas de registo (V)

 Um desafio em Julho de 2008, sobre uma pintura publicada aqui neste mural da minha C(l)ave - Partilha de uma muito querida (4), um acrílico sobre tela da minha Autora da Capa de Memória Alada -, resultou num conjunto de histórias que só me lembrei passados quase 12 anos de recolher para memória, e que são dignas de serem lidas por quem se quiser dar a esse trabalho. 

Segue-se a parte V:

Uma Estória (13) Por bono_poetry do tempocronométrico

Meu amigo de Emanon,

Envio-te por este meio de alta-tecnologia saudações do planeta terra. Continua quente este lado do planeta onde vivo,tenho sérias desconfianças que estamos no pico do verão. Que planeta estranho este é ...inverno! Bem, continuo a gostar mais de Emanon, é mais ameno e menos poluído. A cidade tem um nome estranho, Lisboa, está bonita mas as tágides andam um pouco malucas com o verão...o povo diz que é a época da reprodução... quando souber o que quer dizer prometo explicar-te.o pessoal daqui é estranho à brava, agora andam vestidos com umas calças que unem na zona dos joelhosexperimentei e acredita,aquilo é uma arma letal! ainda vão acabar com o planeta se continuam a usar aquelas calças mas há algo bastante curioso neste planeta...as crianças,umas pessoas pequeninas muto mais inteligentes que os adultos são muito parecidos com os Emanonianos. As pessoas que estão de férias parecem sair de um grande forno e as que estão a trabalhar estão na mudança de pelenão percebo a lógica nem uma ligação... tenho feito umas anotações sobre esta povoação,passo a citar: 1. as pessoas da terra vão para um areal enorme e poem creme(acho que é para agarrar melhor a areia) 2. bebem um liquido dourado com gás(nem me atrevi a provar)3.as mulheres usam uma especie de plataforma nos pés (se é para irem para o nosso planeta têm de se esforçar mais na altura) 4. tenho saudades tuas (ups este apontamento é meu) como podes ver... gente estranha... não há nada como Emanon. ja agora envio-te uma tela comigo sentado na perna de um desses estranhos seres...

beijoooooo emanoniano entre os teus belos orificios reprodutores... hehehehe!!!!



Lá longe, no meia da terra do nunca, vivia Morgana, uma princesa deveras rebelde... Ela sonhava viajar para fora do seu reino, conhecer montes e vales, abismos e penhascos que nunca antes tinha visto, apenas os havia sonhado. Sonhava com tudo isso, montada no seu cavalo branco de crina cinzenta, a cortar ventos e tempestades ou simplesmente em belos dias de sol em que tudo era luz, assim como ela gostava.

Ela era muito meiga e de rosto muito iluminado, e o seu cabelo negro dava-lhe ar de guerreira. Uma guerreira bem menina, uma guerreira bem mulher, com tudo o que isso implica!

Certo dia, após o sol se pôr, bem no recanto mais escondido do palácio, Morgana encontrou-se com o seu mais fiel amigo, o sapo Artur. Este belo amigo, de pele bem escorregadia era o seu mais fiel companheiro, que a acompanhava nas mais diversas aventuras. Desde chatear a rainha mãe com as suas loucuras de menina rebelde, a dar cabo do juízo ao trovador que que insistia em cantar todas as cantigas de maldizer que ela não suportava bem na hora do jantar (quando não era logo ao pequeno almoço!). [Artur era quem a inspirava, apesar de todo aquele verde esquisito e daqueles olhos e... daquela pele estranha. Era sempre sincero no que dizia e quando Morgana o questionava com alguma dúvida ele tinha sempre uma resposta... uma resposta sempre sábia. Artur tinha sofrido um feitiço, uma vingança de alguém que ansiava pelo seu poder, alguém com um coração muito negro e maldoso e que apenas queria poder ( e foi só isso que conseguiu...). Alguém considerado fiel que o tramou e que conseguiu transformá-lo em algo... verde...Conheceu-o num dia bem chuvoso, em que Morgana estava revoltada com a sua vida, decidiu cavalgar no seu cavalo e ir até ao lago. Foi lá que encontrou Artur e com ele travou uma longa conversa, em que descobriram que tanto tinham em comum, apesar de toda a diferença física. Ficaram amigos e ele decidiu que não se importaria de morar no repuxo do castelo apenas para a ver, para se sentir feliz e acompanhado.. já que lhe tinham tirado o que de mais belo tinha...] Bem no escuro da biblioteca, onde apenas as velas ardiam, dando corpo aqueles doisa corpos tão diferentes, conversaram sem fim sobre os sitios onde Morgana desejava ir, e depois de Artur lhe contar verdadeiramente o que lhe tinha acontecido, ela não desistiu e porcurou até ao ultimo livro, um que le indicasse como quebrar toda esta maldade. Instalado na prateleira mais alta e carregado de pó, "Como quebrar Feitiços em 3 tempos!" estava como se ninguém há séculos tocasse nele. Morgana pegou e leu em letras bem grandes: Os feitiços só quebrarão quando se tem bom coração. Morgana acreditou muito, muito e quando pousou Artur em sua mão e lhe afagou a pele escorregadia, ouviu-se um som de estrelas a cair, como se todas as estrelas do céu se compenetrassem no seu pensamento. Aconteceu... Artur, transforou-se num homem, do qual ela tão bem conhecia. Artur, o grande Rei Artur... seu pai, do qual ela tanto amava, e que julgava que à muito tivesse morrido.
Abraçaram-se, como só pai e filha sabem fazer, num abraço tão apertado e tão deles que toda a terra parou... apenas para os sentir.



Uma Estória (15) Por Cris do Procurar-se

O melhor abraço do mundo...

- Dá-me um beijo, que vou virar o teu príncipe! - suplicava o sapo.
- Qual príncipe, qual carapuça! Eu quero é que me deixem em paz e sossego! Não gosto dos teus olhos! Não são doces!
- Vais arrepender-te! - ameaçava o sapo.
- Se fosses verdadeiramente o meu príncipe, não me tratavas assim. Tratavas-me com carinho e ternura, mesmo com a minha rejeição. Na volta, és daqueles que gosta de bater na mulher. És um triste!
- Bolas, miúda, vais ficar sozinha para sempre! - continuou o sapo com raiva.
- Antes só, que mal acompanhada! Não te esqueças que és apenas um sapo, posso sempre atirar-te pela janela fora...
- Atreve-te! - insinuou o sapo.
- Olha que é já agora! - levantou-se, pegou no sapo, abriu a janela e jogou-o do 15.º andar... Sentiu-se aliviada. Sonhava com aquela colega de turma que lhe dera um abraço no outro dia. O melhor abraço do mundo...


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25/10/2023

dos espinhos nas veredas

«minha vontade sempre foi 
subir ao topo da tua permanência 
e, ali, habitar-te. 
Mas minhas impetuosidades 
foram expostas em direção a outros receios. 
O teu templo exige vigilância, clausura 
e eu sou transitória. 
Mas há muito estirei minha alma 
sem arremedo 
a teus pés. 

 (...) 
 
abasteci-me de palavras 
fiéis, doces, consumadas 
juntei as mansas raízes 
um tino das sombras 
dos espinhos nas veredas 
tanto fiz pra te fazer um poema 
que te doesse dentro 
que te esmagasse o estômago 
mas tu não entendes de sacrário 
nem de desbastes. 

por descuido passei 
a escrever na penumbra 
primeiro usei o lápis 
e o papel em branco 
mas tu não leste. 
Apontei o carvão 
e escrevi na parede 
enquanto dormias. 
Tu não leste. 
Então desenhei em baixo relevo 
na porta do quarto 
no chão da sala 
no umbral da porta 
quando viste, 
eu já tinha (l)ido.»

Excerto de Jeanne Araújo, Sangria



05/08/2023

Declamando

Maio de 2012
No Lançamento do livro "O sol disse-me que amanhã acorda cedo", de Clara Maria Barata
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Novembro de 2012
Na apresentação em Coimbra do livro de Paula RaposoO Laço Impenetrável do Silêncio
.

16/06/2023

Um Certo Olhar



Encosto os olhos e absorvo
O odor da maré
Como quem recebe
No peito um abraço
E se encolhe nesse aperto

Acordo o olhar
E avisto ao longe o azul
Brilhando por entre as brumas
Confundindo-se com outro azul
Que sobe às alturas

[Excerto adaptado do meu poema Naufrágio, publicado originalmente a 17/05/2010 no meu blogue Nuvens de Orvalho (apagado)]

05/06/2022

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Agradeço a compreensão.

30/09/2021

No horizonte se desprendem os reflexos...


Eu sei, eu sei que esta sequência de fotos é um lugar-comum... 
 mas encontrei-a nos meus arquivos fotográficos e não quis que ficasse lá fechada.


“Fica junto a nós, em breve desce o sol,
 Fica junto a nós que o dia findará"




"Fica junto a nós que o sol se esconderá,
 Se estás entre nós, a noite a noite não virá!”




"As sombras se desvanecem e a noite cai"...