subir ao topo da tua permanência
e, ali, habitar-te.
Mas minhas impetuosidades
foram expostas em direção a outros receios.
O teu templo exige vigilância, clausura
e eu sou transitória.
Mas há muito estirei minha alma
sem arremedo
a teus pés.
(...)
abasteci-me de palavras
fiéis, doces, consumadas
juntei as mansas raízes
um tino das sombras
dos espinhos nas veredas
tanto fiz pra te fazer um poema
que te doesse dentro
que te esmagasse o estômago
mas tu não entendes de sacrário
nem de desbastes.
por descuido passei
a escrever na penumbra
primeiro usei o lápis
e o papel em branco
mas tu não leste.
Apontei o carvão
e escrevi na parede
enquanto dormias.
Tu não leste.
Então desenhei em baixo relevo
na porta do quarto
no chão da sala
no umbral da porta
quando viste,
eu já tinha (l)ido.»
Excerto de Jeanne Araújo, Sangria