Este pretende ser um texto com algum humor (ainda que um pouco negro ou amarelo), a pedido da Chic'Ana.
Gosto de costurar, bordar, fazer tricot e crochet – são algumas das minhas habilidades (algumas outras linhas em que também me escrevo, como costumo dizer). E faço-o em horas de lazer; matando tempos já de si mortos, ou fazendo-os reviver; cuidando com carinho do vício das agulhas instalado, até em horas em que o não deveria ser. Um fado. No quarto (des)arrumado; à lareira na cozinha; no sofá da sala; em frente ao computador; em salas de espera; em espera dentro do automóvel; na praia… uma dor!
E por vezes, num repente, num levanta e senta, num senta e levanta, são agulhas que desaparecem misteriosamente… onde é que está a agulha suplementar? Ainda há pouco a tive na mão! E reviro tudo: a toalha da mesa, os papéis à volta do computador, as gavetas da máquina de costura, o sofá, o estrado e o enxergão, se preciso for; e de agulha nada, sumiu, o estupor!
Tem de haver sempre uma outra à mão, não vá o trabalho ficar parado, e o vício estragado. Até que chega uma altura em que elas têm de aparecer. Se não estão em lado nenhum, em algum lugar têm de estar, nem que o sítio mais óbvio tenha de ser outra vez batido, revirado, ou até descosido, desforrado, ou todo desmantelado, agora é que vai ser! E viro o sofá de novo de pernas para o ar, e nada! E volta ao seu lugar. Espera! ouvi qualquer coisa a tinir… e pimba deixa cá ver: torna a virar, agora com mais força, e cai uma moeda de um cêntimo, já ganhei o dia! E por uma fresta de lado enfio a mão, pode ser que encontre outro tostão, ah, ah! Achei a danada, mas não a consigo tirar. Vou buscar uma agulha mais grossa com farpa para a puxar. Consegui! Onde está uma tem de estar a outra!... E mexe, remexe, sacode, “se encosta, se enrosca, se abre, se mostra para mim, me agarra, me morde, me arranha”, me pica, cá estás tu, minha sacana! E vão duas, ufa! “Quem é vivo sempre aparece”, diz o povo, e também: “não há duas sem três”.
E “às três é de vez”: quando na praia se deixa uma agulha de crochet, em cima da toalha, no trabalho que se está a fazer. Vais dar um mergulho, voltas e sentas-te na toalha. Aaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiii! Espetas a agulha com farpa na nádega.
– Marido, puxa aqui a agulha!
O marido, a ficar branco:
– Como? Isto tem uma farpa, não sai, pode sair carne agarrada, ou algum nervo... não sou capaz!
– Ai não? deixa cá ver...
E eu, a quente e a frio, zás!
Um acto de repentina coragem, que nos valeu uma saída da praia, mais cedo do que o previsto, para ir fazer o curativo.
Moral da história: Não te preocupes, com as agulha(da)s. Haverá sempre alguma à solta que te espreita em qualquer buraco!